Prisão de assassino de taxistas choca vizinhos e traz alívio à categoria

Jovem de 21 anos confessou os seis assassinatos no estado, diz polícia. Ele é natural de Santana do Livramento, mas mora em Porto Alegre.

15/04/2013 08:25

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Divulgação

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A prisão do homem que confessou ter assassinado seis taxistas no Rio Grande do Sul chocou vizinhos e trouxe alívio para uma categoria que estava revoltada e com medo de trabalhar. O rapaz de 21 anos foi detido na tarde de sábado (13), em Porto Alegre, segundo anunciou a Polícia Civil neste domingo (14).

Os crimes foram cometidos no final de março. Na madrugada do dia 28, o jovem assaltou e executou três taxistas em Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, sua cidade natal. Viajou de ônibus para Porto Alegre e repetiu a série de três crimes dois dias depois.

Os vizinhos da família do jovem, que viveu com a avó em Santana do Livramento até os 19 anos, estão perplexos com a confissão dos assassinatos. “Foi um choque as mortes dos taxistas. Agora a gente tenta entender o que leva uma pessoa fazer isso, será que é doente, precisa de ajuda?”, questiona uma vizinha, que prefere não se identificar.

Para um motorista de táxi em Santana do Livramento, que conhecia as três vítimas do jovem, a prisão do suspeito tranquilizou os colegas. “Ele sempre chegava cedo, era uma pessoa de bem, e foi morto por pouca coisa. A gente fica tranquilo agora com a prisão do jovem. Dessa vez, graças a Deus, a polícia conseguiu fazer um bom trabalho”, diz o homem.

Já em Porto Alegre, a prisão do jovem surpreendeu a categoria. De acordo com o diretor administrativo do Sindicato dos Taxistas (Sintaxi), Adão Ferreira de Campos, ninguém acreditava na ligação entre os crimes. “Nos surpreendeu muito, jamais pensaríamos que o mesmo indivíduo fosse atuar na capital. Achamos que fosse um assunto de Fronteira lá”, diz. 

O suspeito morava há dois anos em Porto Alegre. Ele veio para a capital depois de ser expulso do Exército, em 2010, por problemas disciplinares, segundo informou o capitão Allan Dias Mercês à Rádio Gaúcha. Ele servia na 2ª Bateria de Artilharia Antiaérea, em Santana do Livramento.

Na capital, o jovem trabalhou como motoboy e corretor de imóveis. O perfil no Facebook diz que ele estudou Gestão Imobiliária na Ulbra. Estava desempregado quando cometeu a série de crimes. Depois, arrumou emprego como instrutor de informática em uma escola da capital. Dava aulas para crianças.

De acordo com o chefe da Polícia Civil, delegado Ranolfo Vieira Júnior, os crimes tiveram motivação financeira. Em depoimento, o suspeito relatou que precisava de dinheiro para pagar o aluguel do apartamento onde morava, no bairro Santa Cecília.

“Ele reside em um apartamento que o locatício é R$ 1 mil, mais R$ 250 de condomínio. Esse valor estaria atrasado há 10 dias e ele precisava do dinheiro para pagar a locação. É claro que a investigação vai provar ou não a veracidade disso”, comentou Ranolfo. 

As suspeitas de que o jovem era o assassino começaram a ser investigadas pela Polícia Civil de Santana do Livramento. Imagens de câmeras de segurança indicaram a presença do jovem nos locais dos crimes. Digitais dele encontradas em um dos veículos das vítimas e o rastreamento dos celulares também confirmaram a identificação.

“Mediante um mandato de busca na casa da vó dele, onde ele ficou em Santana do Livramento, foi encontrada a jaqueta que ele utilizou lá, suja de sangue. Foram encontradas digitais, em um dos carros das vítimas, que confrontadas com as dele, indicam que ele esteve no veículo”, disse o delegado Roger Tavares, responsável pelas investigações na Fronteira.

De acordo com a polícia, o suspeito viajou para Santana do Livramento no domingo, dia 24 de março. Na quinta-feira, dia 28, por volta das 2h, chamou o primeiro taxista por telefone. Foi até um local próximo de um lago onde executou a primeira vítima, com um tiro na cabeça. O carro foi abandonado em Rivera, no Uruguai.

Após o primeiro latrocínio, ele retornou ao Brasil, tentou pegar outros dois táxis, sem êxito. Seguiu, então, até um ponto de táxis, abordou outro motorista, levou para um local distante, e cometeu o segundo crime. retornou ao centro e dali foi para rodoviária, onde pegou o terceiro táxi, e executou o motorista em um local distante.

Às 23h da noite da quinta-feira, véspera de feriado, o suspeito pegou um ônibus na rodoviária em direção a Porto Alegre. E 48 horas depois, na madrugada do dia 30, matou, com tiros na cabeça, outros três taxistas. Os corpos foram encontrados na Vila Ipiranga, no Passo D’Areia e no bairro Mario Quintana, na Zona Norte.

Com a ajuda de câmeras de vigilância, a polícia identificou o suspeito próximo aos locais de dois crimes na capital. Ele vestia calças claras, casado escuro e carregava uma mala de viagem na mão. Essas roupas foram encontradas no apartamento delem, e a perícia revelou que tinham manchas de sangue. Celulares das vítimas e uma passagem de Santana do Livramento para Porto Alegre também foram achados.

“Ele, lisamente, admitiu, em detalhes, a prática dos três crimes ocorridos em Santana do Livramento e, posteriormente, a prática dos três crimes ocorridos em Porto Alegre, dando detalhes. Em poder desse indivíduo, foram apreendidos bens subtraídos das vítimas, foram apreendidas roupas com vestígios de sangue e uma passagem que ônibus”, explicou o delegado Ranolfo.

O passo a passo dos crimes

- 24 de março - O jovem de 21 anos viaja de Porto Alegre para Santana do Livramento. Na sua cidade natal, ele fica hospedado na casa da avó.

- 28 de março (primeira víttima) - Por volta das 2h, ele chama o primeiro taxista por telefone. Vai com ele até um local próximo de um lago, onde o executa com um tiro na cabeça. O carro é abandonado em Rivera, no Uruguai.

- 28 de março - De volta ao Brasil após atravessar a fronteira, o suspeito tenta pegar outros dois táxis, mas sem sucesso.

- 28 de março (segunda vítima) - O jovem vai até um ponto de táxi em Santana do Livramento, no centro da cidade. Ele vai com outro motorista até um local mais afastado, onde o executa exatamente como a primeira vítima.

- 28 de março (terceira vítima) - O jovem embarca em um táxi que havia deixado uma passageira na estação rodoviária, no Centro, em um ponto da cidade ainda desconhecido pela polícia. O taxista é conduzido até outro local afastado, executado e roubado. O carro dele é dispensado em outro ponto. Depois disso, o suspeito volta para casa.
- 28 de março - Às 23h, o suspeito toma um ônibus de volta para Porto Alegre. Chega na capital na manhã de Sexta-Feira Santa.

- 30 de março (quarta vítima) - Em Porto Alegre, o jovem começa a repetir a série de crimes. Por volta da 1h45, a primeira vítima é executada, no bairro Vila Ipiranga. O carro é abandonado na esquina das ruas Havana com Bogotá, na Zona Norte.

- 30 de março - Câmera de segurança registra a passagem do jovem pela Rua Bogotá, à 1h57. Dois minutos depois, ele aparece em imagens feitas na Assis Brasil.

- 30 de março - Em frente à casa noturna Feijão com Arroz, na Assis Brasil, o jovem toma outro táxi. O motorista pede para ele sentar no banco de frente. Em depoimento à polícia, o jovem disse que desistiu do assalto por causa desse fato.

- 30 de março (quinta vítima) - Após pegar outro táxi, o suspeito executa o motorista na Rua São Jerônimo, bairro IAPI, por volta das 2h25. O carro é abandonado na Rua Mata Bacelar.

- 30 de março - Câmera de monitoramento registra a passagem do suspeito pela Rua Mariland, em direção à Avenida 24 de Outubro, depois de abandonar o segundo veículo.

- 30 de março (sexta vítima) - O terceiro taxista é morto por volta das 3h, na Travessa José Bonifácio, no bairro Mario Quintana. O carro foi abandonado ao lado do corpo. 

Primeira Edição © 2011