No Brasil, 22% da população ainda se equilibra no limiar da pobreza

14/04/2013 07:34

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Folha de São Paulo

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Parcela expressiva da nova classe média emergente permanece vulnerável a choques econômicos que podem empurrá-la novamente para a pobreza.

No Brasil, a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), ligada à Presidência da República, tem tentado mensurar essa vulnerabilidade.

Segundo a economista Diana Grosner, diretora da SAE, 22% da população brasileira pertence ao estrato mais baixo da classe média (dividida em três grupos), com renda familiar per capita mensal entre R$ 291 e R$ 441.

"Essas pessoas são as mais vulneráveis a uma volta à pobreza e representam um número alto", diz.

Em estudo de 2009 sobre a expansão da classe média, o economista Martin Ravallion citou que 1 em cada 6 pessoas em países em desenvolvimento viviam com renda entre US$ 2 e US$ 3 por dia.

O autor considerou renda per capita de US$ 2/dia como limite entre a pobreza e a nova classe média em nações emergentes --valor em paridade do poder de compra de 2005, medida que elimina distorções de preço.

Para Grosner, a inflação mais elevada e o aumento do endividamento representam riscos importantes para a nova classe média brasileira.

Outra ameaça, segundo a economista, é o avanço da produtividade em ritmo muito menor que o dos salários.

Segundo ela, isso pode fazer com que as empresas decidam repassar os custos maiores para os preços --pressionando mais a inflação-- ou demitir.

IMPORTÂNCIA

O risco de retrocesso no processo de expansão da classe média em países emergentes preocupa porque a continuação de sua ascensão é importante para a recuperação da economia global.

"As boas perspectivas para a classe média da Ásia e de outros países como o Brasil são importantes por garantir demanda por bens e recursos mais forte que à de consumidores de países desenvolvidos", afirma Robert Wood, economista da EIU (Economist Intelligence Unit).

Dados da EIU mostram que o forte crescimento da fatia de famílias com renda anual superior a US$ 10 mil foi comum a vários países emergentes na última década.

CAUSAS DA EXPANSÃO

Segundo o economista Otaviano Canuto, vice-presidente do Banco Mundial, a expansão do emprego e a valorização do trabalho são a principal causa comum para a expansão da classe média em países em desenvolvimento nos últimos anos.

Grosner menciona que o aumento da renda do trabalho explica mais do que 60% do aumento da renda no país na última década.

Especialistas também ressaltam o papel de políticas de transferência de renda para o aumento de uma nova classe consumidora no Brasil e na América Latina.

Segundo Sonia Bueno, presidente-executiva da consultoria Kantar Worldpanel para a América Latina, 22% da população em 15 países da região disse receber algum benefício do governo:

"Esse dinheiro acaba em boa parte sendo convertido em consumo".

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