Como se calcula a data da Páscoa?

31/03/2013 06:47

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BBC Brasil

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Diferente do Natal e outras festas religiosas, a Páscoa muda a cada ano, entre 22 de março e 25 de abril. E a escolha dos dias foi definida após muita controvérsia.

A Páscoa cristã tem relação com Páscoa judaica (o Pesach).
 

Segundo a tradição cristã, a festa marca o dia da ressurreição de Cristo, em um domingo.

Para a tradição judaica, marca a fuga dos judeus do Egito, liderados por Moisés.

Mas por que elas não são celebradas do mesmo dia?

Raízes judaicas
Lutz Doering, professor da Universidade de Durham, no Reino Unido, diz que há registros de que até o século 2 muitos cristãos celebravam a festa no dia 14 de Nisan do calendário judaico, mesma data do Pesach.

Doering explica que alguns grupos passaram a celebrar a Páscoa no domingo após o Pesach, "porque viam a data como independente, uma nova celebração ligada exclusivamente à ressurreição de Jesus".

Convencionou-se então que a Páscoa seria celebrada no domingo após a primeira lua cheia da primavera, guiando-se pela data do equinócio.

O debate sobre a mudança foi documento por Eusébio, historiador romando e bispo de Cesareia, que narra os encontros entre diferentes grupos que queiram fazer prevalecer sua posição.

Ao fim, cada um continuou a celebrar na data que considerava correta, até o Primeiro Concílio de Niceia, em 325 d.C..

O concílio convocado pelo imperador Constantino foi uma tentativa de unificar as normas e a tradição cristã, que havia sido feita religião oficial do Império Romano em 312 d.C..

O concílio decidiu que todos os cristãos deveriam celebrar a Páscoa na mesma data e que esta seria separada do Pesach.

Festa móvel
Um problema em separar a Páscoa do Pesach foi como calcular a data da festa com antecedência, já que a astronomia romana não era tão desenvolvida e a festa estava relacionada ao ciclo lunar.

O astrônomo Robert Cockcroft, da Universidade McMaster, no Canadá, explica que o problema foi resolvido ao se ficar "datas eclesiásticas", diferentes das datas astronômicas.

Fixou-se a Páscoa no primeiro domingo após a primeira lua cheia "eclesiástica" após o equinócio da primavera.

As datas "eclesiásticas" tendem a seguir o tempo lunar, mas excepcionalmente o Pesach e a Páscoa acabam sendo celebrados com uma distância maior.

"Se a lua cheia ocorrer durante o equinócio, os cálculos eclesiásticos tente a forçar a próxima lua cheia para determinar a data da Páscoa", diz.

Julio e Gregório
A confusão para determinar a Páscoa ainda não ainda chegado ao fim.

Até 1582, usava-se na Europa o calendário juliano (em honra a Júlio César), baseado no ano solar.

"Contudo, o calendário juliano superestimava o ano solar em três dias, por quatro séculos", conta.

A contagem equivocada fez a Páscoa ser celebrada no verão europeu no século 16.

Em 1582, o papa Gregório 18 resolveu corrigir o erro e estabeleceu um novo calendário, o gregoriano, em uso até hoje.

Os dias do ano foram limitados a 365 (366 nos anos bissextos) e foram "extintos" dez dias na contagem.

Quem dormiu na noite do dia 4 de outubro de 1582 acordou na manha do dia 15 de outubro, oficialmente.

O calendário, no entanto, não foi seguido por todos. Cristãos ortodoxos continuaram a usar o calendário juliano.

Com tanta mudança, a Páscoa é hoje celebrada em datas diferentes por judeus, católicos e cristãos ortodoxos.

 

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