1958: O ANO QUE NÃO DEVIA TERMINAR

08/11/2012 16:07

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Redação

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1958: O ANO QUE NÃO DEVIA TERMINAR
Por ocasião da minha data natalícia agora em novembro, ocorreu-me passar o dia comigo mesmo na maior das trivialidades. Fiquei mais em casa, olhei o mar que estava em brumas sem nenhum pescador se aventurando, e bateu-me aquele vento de novembro dos cabelos aos pés. Tentei segurar a sombrinha da mesa do vento revolto, ela estava bem segura, mas batia-me um medo danado de que pudesse voar levando até a mesa. Tive então que retirar-me daquele céu aberto e do sol ameno pelo vento naquele final de manhã. Mas, por fim, recolhi-me e assim fiquei, e durante o dia procurei fazer alguma algo leve das boas coisas da vida, e terminei mesmo foi fixando meu pensamento no ano em que nasci 1958. Este ano, numa análise sensacional que já ouvi, foi a esquina entre o passado e o futuro, uma época áurea que talvez nunca mais voltemos a viver. Interessante nascer na esquina entre o passado e o futuro, isso me atinou a cabeça durante o dia. É coisa pra se pensar e deixar as boas cabeças tirarem suas conclusões. Quanto a mim, desejo aos meus contemporâneos natalícios de 1958, que deve ser muitos, toda felicidade e toda paz do ano em que nascemos. Se não vejamos este pequeno resumo:

FELIZ 1958! — O ANO QUE NÃO DEVIA TERMINAR, de Joaquim Ferreira dos Santos, lançamento da Editora Record, conta a delícia de ser brasileiro naquele final sorridente dos anos 50. O Brasil foi campeão do mundo de futebol pela primeira vez. João Gilberto lançou o 78 rotações com Chega de saudade e deu o arremate final na bossa nova. JK botou nas ruas o DKW-Vemag, o primeiro carro com 50% de suas peças produzidas aqui. Tudo deu certo.O autor entrevistou personagens daquele ano, mergulhou nos arquivos de O Cruzeiro, ouviu fitas da Rádio Nacional e trouxe um perfil do período mais exuberante de nossas vidas neste século. O cinema novo começava a produzir, mas a chanchada ainda demonstrava vigor em 17 filmes. Zé Celso inaugurava a vanguarda do teatro oficina, mas o teatrão do TBC continuava em cena. O Brasil embicava para a modernidade — Oscar Niemeyer traçava Brasília, o Jornal do Brasil realizava sua reforma gráfica —, mas convivia sem conflitos com o seu passado. Ao contrário de 1968, quando o pau quebrou e o ano não terminou, segundo a definição do livro de Zuenir Ventura, 58 foi tão harmonioso que não devia terminar nunca. Adalgisa Colombo sagrou-se Miss Brasil revolucionando os concursos de beleza com uma ousadia que antecipava as mulheres dos anos 60. Nas ruas do Rio, além das novidades da indústria automobilística nacional, o charme de uma cidade que vivia os últimos dias de capital federal. Carmen Mayrink Veiga lembra os jantares à luz de velas no Country Club, os comentários dos colunistas sociais e a geladeira de estolas de visom na Casa Canadá, na Rio Branco. Foi o ano do bambolê, da juventude transviada, da criação das fofocas da Candinha na Revista do Rádio, da vitória de Maria Ester Bueno em Wimbledon, do lançamento de Gabriela Cravo e Canela, de Brizola encampando a ITT e do rinoceronte Cacareco elegendo-se vereador nas urnas em São Paulo. A democracia era plena, e Luiz Carlos Prestes, depois de ficar foragido por nove anos, reaparece na Noite de Gala, da TV Rio, entrevistado por Flávio Cavalcanti. A possibilidade de comemorar   todos esses acontecimentos levantados por Joaquim Ferreira dos Santos nesta obra maravilhosa de resgate deste ano verdadeiramente cabalístico de 1958 — e mais a chegada do rádio de pilha, do supercampeonato do Vasco, da presença de Ilka Soares entre as Certinhas do Lalau —, só por essa nostalgia já; vale fazer como as vedetes do teatro rebolado de Walter Pinto (mais de 30 montagens naquele ano) e gritar: “Oba!”.

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