Milhares de radicais russos levam intolerância ao centro de Moscou

04/11/2012 09:00

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A rejeição mais radical aos imigrantes dos últimos tempos foi ouvida neste domingo no centro de Moscou na voz de milhares de ultranacionalistas na denominada "Marcha Russa", que pela primeira vez em quatro anos levou palavras de ordem extremistas ao coração da capital russa.

Cerca de 6 mil pessoas, segundo a polícia, e até 20 mil segundo os organizadores da marcha, exibiram símbolos, cartazes e palavras de ordem ultranacionalistas nas avenidas próximas ao rio Moscou, que percorreram sem incidentes até o local do comício, frente ao histórico Parque Gorki.

"Hoje somos 20 mil, mas em breve seremos 100 mil, e depois 1 milhão", exclamou do palco um dos organizadores da polêmica marcha, o líder do movimento "Russos" Aleksandr Belov, citado pela agência "Interfax".

No início do percurso, outro dirigente do "Russos", Dmitri Démushkin, estimava a participação em "pelo menos 10 mil pessoas".

Os nacionalistas, que se somaram a quase todas as manifestações contra o Kremlin que no último ano percorreram as cidades russas, exigiram às autoridades a eliminação dos artigos do Código Penal que incriminam os extremistas.

Os oradores também reivindicaram que a etnia russa seja definida na Constituição do país como o povo que articula o Estado.

Os nacionalistas ainda exigem do governo a introdução de vistos para os imigrantes procedentes das antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central.

Pela primeira vez em quatro anos, a polêmica "Marcha Russa" saiu da periferia da cidade, onde havia sido realizada nos outros anos, e se deslocou para o centro apesar dos protestos de políticos e movimentos civis pela tolerância.

Algumas organizações civis e de direitos humanos deixaram claro que denunciarão os organizadores do ato por palavras de ordem e cartazes de conteúdo extremista.

"Soubemos que na coluna (de manifestantes) marcharam pessoas com suásticas. Gritaram frases xenófobas, nacionalistas e contra a imigração", lamentou Aleksandr Brod, diretor do Escritório de Direitos Humanos de Moscou.

O ativista histórico lembrou que esse tipo de ato acontece há vários anos: "Nas marchas russas sempre se ouvem chamados à violência, ao extremismo, e a reação das forças da ordem é sempre morna".

Pouco antes do início do percurso, a polícia de Moscou deteve 25 jovens que tentavam aderir à marcha vestindo uniformes pretos com a suástica nazista.

Uma dezena de organizações civis de Moscou, desde veteranos da Segunda Guerra Mundial até o Conselho das Mães de Famílias Numerosas, pediram sem sucesso ao prefeito de Moscou, Sergei Sobianin, que proibisse a "Marcha Russa".

O presidente da Federação de Imigrantes da Rússia (FIR), Muhammad Amín, manifestou que faz muito que as diásporas nacionais "percebem a ameaça dos nacionalistas".

"A permissividade para autorizar nacionalistas e skinheads a marchar pela cidade pode destruir a frágil paz que existe na sociedade", advertiu Amín.

O líder do "Russos" não demorou a responder ao presidente de FIR e lhe acusou de incitar o ódio étnico.

"Uma pessoa que vive na Rússia não pode fazer esse tipo de declaração em um país onde 80% dos habitantes são russos", disse Démushkin.

O prefeito anterior de Moscou, Yuri Luzhkov, proibiu a marcha em 2006, um ano depois que os "skinheads" percorreram as ruas da cidade, exibiram suásticas, ergueram os braços em saudação nazista, disseram "Heil Hitler" e atacaram estrangeiros.

Um ano mais tarde, no entanto, voltou a permitir a concentração em meio a uma enxurrada de críticas.

O centro de direitos humanos Sova lembrou no dia anterior que "11 pessoas morreram e 149 ficaram feridas desde o começo do ano por ataques racistas e neofascistas".

As vítimas mais frequentes dos skinheads são os imigrantes procedentes das regiões e países do Cáucaso e da Ásia Central, além de jovens que pertencem a tribos urbanas e minorias sexuais. 

Primeira Edição © 2011