França defende liberdade, mas pede responsabilidade com charges

20/09/2012 05:39

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O governo francês reivindicou nesta quinta-feira a liberdade de expressão como um princípio "sagrado" e "intangível", após a publicação em um jornal satírico de caricaturas de Maomé, mas pediu "responsabilidade" diante das consequências que as ações podem ter para os interesses do país no exterior.

"Estamos em um país onde a liberdade de expressão é sagrada", afirmou o ministro de Assuntos Europeus, Bernard Cazeneuve, que em entrevista ao canal de televisão i×Télé também lembrou os apelos à "responsabilidade" que desde terça-feira o primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, fez, com a perspectiva de ações antifrancesas.

Cazeneuve disse que na França "deve se respeitar o princípio do laicismo", em uma aparente alusão ao direito de criticar às religiões. Mas acrescentou que "quando se é livre, é preciso medir o alcance da palavra" e lembrou o "clima de extrema tensão" gerado em vários países muçulmanos com o polêmico vídeo A Inocência dos Muçulmanos, com ações violentas que causaram mortes.

O ministro da Educação ressaltou que a liberdade de expressão é um bem "intangível, não se pode transigir com isso" porque fazê-lo seria "o primeiro passo rumo ao totalitarismo".

Peillon declarou, em entrevista à emissora France Culture que essa liberdade de expressão foi "muito importante para nossa civilização", para a democracia, e por isso "é preciso preservá-la".

As caricaturas do semanário Charlie Hebdo com a imagem de Maomé levaram ontem o governo francês a anunciar o fechamento de embaixadas e consulados, centros culturais e escolas francesas em 20 países muçulmanos, que não quis especificar, amanhã, dia de oração para essa religião.

Na França, o Executivo também proibiu uma manifestação de muçulmanos fundamentalistas em Paris, depois da que aconteceu no sábado passado nas proximidades da embaixada americana, e terminou com mais de 100 presos.

Charlie Hebdo, cuja redação na capital francesa tem proteção policial desde que terça-feira à noite foi publicado o conteúdo de sua edição desta semana, deverá responder aos tribunais pelo menos por uma denúncia contra as controversas caricaturas.

A Associação Síria pela Liberdade, que se apresenta como uma ONG que defende o povo sírio e os direitos humanos, entrou com uma ação contra a revista satírica por incentivo público à discriminação, ao ódio e à violência nacional, racial e religiosa".

O processo tem poucas possibilidades de êxito, já que os tribunais franceses julgaram em 2007 Charlie Hebdo por imagens semelhantes e o absolveram ao considerar que os desenhos não atacavam uma comunidade em particular.

Primeira Edição © 2011