Cientista político avalia candidatos e diz que violência será o mote da campanha

Eduardo Magalhães analisa candidatos e comenta o fenômeno Cícero Almeida

16/07/2012 04:38

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Jornal Primeira Edição

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O grande mote da eleição em Maceió será a segurança pública – um tema que interessa não apenas aos candidatos, mas à sociedade em geral. Essa é a avaliação do analista Eduardo Magalhães, cientista político e professor da Universidade Federal de Alagoas. Nesta entrevista ao PRIMEIRA EDIÇÃO, ele analisa o cenário eleitoral em Maceió, o potencial dos principais candidatos e prevê dificuldades para Cícero Almeida por não ter formado um grupo político durante seus oito anos de prefeito. Magalhães também comenta a dificuldade que o ex-governador Ronaldo Lessa terá para deixar o eleitor sem dúvida quanto a sua elegibilidade, e conclui manifestando a certeza de que os réus do mensalão não serão protegidos por impunidade no Supremo Tribunal Federal.

A seu ver, qual será o grande mote da campanha em Maceió?
Segurança. Desenvolver uma sensação de segurança para a cidade de Maceió, projetando isso para o Estado. Sem dúvida alguma este será o tema principal desta campanha.

A questão da violência pode prejudicar – ou beneficiar – um ou outro candidato?
Se você for explorar a violência como sendo uma coisa eleitoreira ou eleitoral ela pode ser prejudicial a todos os candidatos. No entanto, se ela for considerada um objetivo do cidadão, da população de Alagoas, ela pode ser positiva até porque esta é uma questão que envolve toda sociedade. O tema pode, obviamente, ser explorado ou utilizado de forma política, mas, na verdade, ele é de cidadania, afeto a todos.

Essa eleição na capital valerá como uma espécie de ‘terceiro turno’ da sucessão estadual de 2010, confrontando os grupos de Teotonio e Lessa?
Não sei se é terceiro turno ou se é preliminar, porque essa eleição municipal em todo o Estado será sem dúvida alguma uma preparação para a sucessão estadual de 2014.

Em sua avaliação, quais os candidatos com potencial para concorrer de fato à Prefeitura?
Esse ‘de fato’ é muito forte porque temos candidatos, todos eles têm valor, têm oportunidades iguais e teriam a chance de fazer boas administrações. Alguns obviamente pela experiência, pelo tempo de serviço, pela qualidade do trabalho que já fizeram no passado têm, sem dúvida, uma possibilidade muito maior de ganhar a eleição. E aí você tem que mencionar os principais que seriam Rui Palmeira, Jefferson Morais, Ronaldo Lessa e num segundo momento a Rosinha que é uma política recente, de uma experiência recente, e o Galba Novaes que tem uma experiência muito grande como legislador. Agora, essa é uma eleição para o executivo e para tanto a proposta é muito diferente da de uma eleição proporcional; e aí você tem que levar em consideração o tipo de expectativa do eleitor. Essa é uma eleição diferente porque o perfil do eleitorado mudou. Nessa eleição temos um eleitorado que beira os 40% de gente de menos de 30 anos de idade e essas pessoas não vão pensar no passado, vão pensar no presente e no futuro e esse presente e futuro tem que ser representado na proposta dos candidatos. Essa experiência do passado não é tão válida e tão importante para o eleitor que está mais atento para o hoje e para o amanhã.

Em resumo, quais os cacifes de Rui Palmeira, Ronaldo Lessa e Jéferson Morais?
Jefferson Morais e Rui têm eleitorados completamente diferentes e essa é uma vantagem gigantesca para os dois, enquanto Ronaldo Lessa tem eleitores que se assemelham tanto ao eleitor do Rui quanto ao do Jefferson. Se a campanha for desenvolvida de forma a polarizar as intenções do eleitorado do Rui e o eleitorado do Jefferson, a situação do ex-governador Ronaldo Lessa tende a ter dificuldade porque seus eleitores migrarão para as duas propostas. Enquanto a proposta de Ronaldo Lessa, que tem uma ligação muito forte com sindicatos, associação de moradores, com funcionário público, esse setor é importante, mas é muito menor que os outros setores e muito menos independente do que os outros setores. Você pode ter uma trifurcação e está claríssimo que há dois eleitorados completamente diferentes: do Rui e do Jefferson. Se esses dois eleitorados prevalecerem haverá uma migração dos eleitores que se identificam com as posições do Jefferson e com os que se identificam com as posições do Rui se afastando da proposta de eleição do ex-governador Ronaldo Lessa. Então a situação do ponto de vista de interpretação do perfil do eleitor de Maceió neste momento é um eleitorado jovem que procura emprego, que procura acima de tudo felicidade, de estar de bem com a vida e esse eleitorado vai se identificar tanto com Jefferson como com o Rui, enquanto que o eleitorado do ex-governador é um eleitorado muito mais tradicional que vê as vantagens e os interesses que são inerentes ao relacionamento com o poder, o que é decorrente de Lessa ter sido prefeito da capital e governador do Estado.

Seria incorreto dizer que Rosinha da Adefal é uma candidata segmentada? Ela tem potencial para crescer?
Ela tem potencial para crescer desde que não seja uma candidatura exclusivamente de pessoas portadoras de alguma deficiência física. Ela tem que se identificar com o todo, não com segmentos. A eleição não é proporcional. Numa eleição proporcional você atrai um segmento e se elege; já numa eleição geral para o executivo você tem que atrair todos os segmentos. Se ela se mantiver como uma representante de interesses particulares de grupos especiais ela sempre terá voto somente de grupo especial. Ela tem que ter uma mensagem muito mais abrangente que vá buscar esses eleitores desse grupo perfeitamente identificado com o Rui e com Jefferson, que sejam atraídos por ela porque ela também é muito jovem, ela também tem ideias de políticas sociais muito interessantes. Mas em política duas pessoas não ocupam o mesmo espaço. O espaço que representa popularidade, com o perfil do Jefferson, já está ocupado, nem o Rui vai ocupar, nem Ronaldo vai ocupar, nem a Rosinha. Esse espaço é do Jefferson. Como o espaço do apelo emocional extraordinário do Rui para juventude, também está ocupado, então não dá para disputar um espaço já ocupado, essa é uma lei da física. Você tem que criar outro espaço e fazer com que esse novo espaço atraia eleitores que, de certa forma, estão, aparentemente, identificados com outras candidaturas.

Por que, a seu juízo, o Palácio lançou dois candidatos, no caso, Rui e Jéferson?
O palácio não lançou dois candidatos. O PSDB tinha uma coligação partidária e lançou o Rui, e o DEM em outra coligação partidária que lançou como candidato o Jefferson Morais. Tanto um como outro oferece condições muito favoráveis para o projeto de governo do Estado. A administração do governador Teotonio Vilela seria bem servida tanto com o Rui quanto com o Jefferson Morais, mas este não é um candidato do governo. Ambos são de partidos que apoiam a sua gestão e ele simplesmente simpatiza com as duas candidaturas até porque são duas candidaturas muito fortes de pessoas capazes de levar uma gestão para a cidade de Maceió em consonância com a administração tucana no Estado.

Essa controvérsia em torno da inelegibilidade pode prejudicar a campanha de Lessa, ainda que ele não seja impugnado?
Sem dúvida alguma. O eleitor não vota com dúvidas. O eleitor vota primeiro em quem pensa que vai ganhar; segundo, ele vota em quem vai satisfazer seus interesses; terceiro ele não pode votar em alguém que seja uma dúvida que mais cedo vai perder o mandato porque, perdendo o mandato, ele perdeu seu voto. Obviamente, o ex-governador vai ter que provar que é elegível e que tudo que paira de dúvida sobre sua candidatura tem que ser dissipado, porque o eleitor não vota pensando que alguma coisa poderá prejudicar a sua escolha pessoal.

No interior, os fichas sujas lançam familiares; não é o mesmo que excluir seis e entrar com meia dúzia?
A Constituição é clara: o crime não vai além da pessoa que o praticou. O crime cometido por um pai não é crime de um filho. Esse é o primeiro ponto. O fato de você deixar de ser candidato porque é inelegível baseado na Ficha Limpa não faz com que seu filho ou seu parente seja condenado por um crime que você cometeu. Tem que ser separado. Se o eleitor achar que há uma ligação muito grande é provável que essa ligação familiar termine por interferir de forma negativa sobre o candidato que vai ser lançando. E é obvio que os adversários irão explorar essa ligação familiar.

A gestão de Cícero Almeida, em dois mandatos, é um caso excepcional ou uma prova de que experiência não influi tanto?
O Cícero é um fenômeno da política alagoana e tem que ser considerado um fenômeno; ele tem uma evolução política extraordinária: em quatro anos passou de nada para vereador, para deputado estadual e para prefeito da capital. Essa é uma ascensão meteórica, extraordinária, que mostra que ele tem uma capacidade fantástica de atrair eleitores, conquistar votos e se eleger. Ele é um fenômeno e os fenômenos não têm explicação: da mesma forma que aparecem, eles desaparecem. Mas a situação de oito anos de Prefeitura mostrou um Cícero com dificuldade de formar um grupo político. Um político tem que formar seu grupo ou acaba sozinho. Tanto que seu candidato, que é o vice do Lessa, pode ter sido uma indicação dele, mas é muito mais ligado ao senador Renan Calheiros. Isso tem sido uma dificuldade para o prefeito. Sua atuação política, após ter tido uma gestão muito boa no primeiro mandato, principalmente no impacto positivista no começo quando tinha muito dinheiro nos cofres da Prefeitura, fez com que ele tivesse um lastro que oito anos depois não se transformou na preparação de sucessores. E sem sucessores e nenhum grupo, ele vai ter dificuldade até para retornar à política de Alagoas.

Uma previsão: a turma do mensalão vai pagar caro no Supremo Tribunal?
Vai pagar. Esse mensalão foi o maior escândalo político da historia do Brasil, não pode ficar impune, até porque os eleitores mais jovens, com menos de 35 anos de idade, não podem viver sob esse tipo de situação, marcados por um triste episódio em que um governo financiou deputados no sentido de obter aprovação de seus projetos no Parlamento nacional. Fazer justiça, nesse caso, é uma lição de cidadania; você tem que ter representantes que sejam honestos e capazes de defender os interesses dos eleitores, mas acima de tudo o interesse de todos, da nação e o mensalão foi um desastre. Mesmo tendo seis ministros (dos onze) nomeados pelo presidente Lula, há muita dignidade e muita decência no Supremo Tribunal e eles não querem entrar para a historia com suas biografias sujeitas a ataques. Por isso, não creio em impunidade. Estou certo de que o Supremo Tribunal tem que sair incólume porque é o ultimo recurso do cidadão e se ele ficar sujeito a interesses pessoais, é melhor deixar a bagunça tomar conta do País – e assim, à base do cada um por si, o Brasil deixa de ser uma nação respeitável, um Estado democrático.



 

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