Demóstenes propôs renúncia em troca de absolvição no Senado

26/06/2012 05:53

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Terra

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O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) procurou na última semana, pessoalmente ou por intermédio de emissários, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG) para propor sua renúncia ao mandato em troca da absolvição no processo a que responde por quebra de decoro parlamentar. Ele teria sugerido tirar licença de 120 dias (sem que o suplente assumisse), procurar os colegas para dizer que não tinha mais condição de permanecer no cargo e pedir a absolvição no plenário, onde a votação é secreta. Absolvido, ele renunciaria e garantiria seus direitos políticos. Na noite de segunda-feira, o Conselho de Ética da Casa aprovou por unanimidade o pedido de cassação de Demóstenes, acusado de ser o braço político da organização do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

 O senador goiano fez chegar aos senadores uma sensação de arrependimento, de que foi enganado por Cachoeira. Mas a negociação deu errado porque houve resistência por parte dos procurados. Aécio Neves teria negado ajuda, argumentando que se sentiu traído pelo colega no episódio em que, a pedido de Demóstenes, indicou uma prima de Cachoeira para um cargo em Minas Gerais. O senador ainda teria ido ao Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, atrás de Sarney, que não o recebeu. O advogado de Demóstenes, Antônio Carlos de Almeida Prado, o Kakay, negou que seu cliente tenha oferecido a renúncia. "Isso nunca ocorreu. Seria contraditório, porque a luta do senador é para assegurar a manutenção de seu mandato no julgamento pelo plenário do Senado", disse.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira. 

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