Autora de 'A cor púrpura' impede a publicação do livro em Israel

Guardian' mostrou trechos de carta de Alice Walker, defensora da Palestina. Spielberg dirigiu a versão para o cinema, que tem Woopi Goldberg e Oprah.

21/06/2012 16:00

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G1

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A escritora americana Alice Walker, 68, não autorizou a publicação em Israel de sua obra mais conhecida, "A cor púrpura" (1982), que lhe valeu o prêmio Pulitzer e foi adaptada para o cinema por Steven Spielberg. A informação está numa reportagem publicada nesta quarta-feira (20) no site do jornal britânico "The Guardian", que cita trechos de uma carta da autora, na qual ela apresenta suas razões para o veto.

Originalmente divulgado num site que promove o boicote a Israel, o texto traz, de início, o seguinte argumento: o país "é culpado pelo apartheid e perseguição do povo palestino, tanto dentro de Israel como nos Territórios Ocupados". Walker atribui sua opção a uma determinação do Tribunal de Russell sobre a Palestina, que aconteceu na África do Sul, em novembro de 2011.

A carta é endereçada à editora Yediot Books, que pretendia publicar a obra, cuja versão cinematográfica tem como protagonistas Woopi Goldberg e Danny Glover. Hoje estrela da tevê americana, a apresentadora Oprah Winfrey também figura no elenco do longa, lançado em 1985.

Alice Walker é também conhecida por sua militância feminista. A trama de seu livro mais famoso aborda conflitos familiares e sociais, notadamente o racismo no sul dos Estados Unidos. A protagonista é Celie, uma mulher que, ainda adolescente, sofre violência sexual do próprio pai. O romance é construído a partir de cartas que ela escreve a sua irmã e a Deus. A reprodução da linguagem oral dos habitantes de certa região do país foi desde logo apontada como um destaque na escrita de Walker.

De acordo o "Guardian", na década de 1980 houve uma edição em hebraico de "A cor púrpura". A reportagem lembra ainda um trecho da carta da autora em que ela escreve que cresceu "sob o apartheid e isso [o conflito entre Israel e Palestina] foi ainda pior".

"Na verdade, muitos sul-africanos que estiveram presentes [no Tribunal de Russell], incluindo Desmond Tutu [Nobel da Paz em 1984], acharam que esses crimes de Israel são ainda piores do que aqueles dos quais eles foram vítimas durante a supremacia branca que dominou a África do Sul por tanto tempo", observa Walker.
No final da carta, ela considera que "iria gostar muito" se seus livros "fossem lidos pelo povo de seu país [Israel], especialmente pelos jovens e pelos corajosos ativistas (judeus e palestinos) que militam por justiça e paz, ao lado dos quais tive a felicidade de trabalhar. Eu tenho esperança de que um dia, talvez em breve, isso [a publicação] possa acontecer. Mas agora não é a hora." 

Primeira Edição © 2011