Lula quer mostrar que é o principal eleitor do País, diz analista

20/06/2012 05:49

A- A+

Terra

compartilhar:

A aliança entre o PT e Paulo Maluf (PP) na disputa pela Prefeitura de São Paulo é a nova aposta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para consolidar-se como o principal eleitor brasileiro. Consagrado pela alta aprovação popular nos oito anos em que governou o País e após carimbar a vitória da afilhada política, Dilma Roussef, na eleição presidencial de 2010, Lula tenta agora repetir o feito com Fernando Haddad (PT) para aumentar o peso de sua influência em campanhas. Na opinião de analistas ouvidos pelo Terra, o histórico aperto de mão entre Lula e Maluf, registrado em foto-aliança nesta segunda-feira, demonstra que o ex-presidente confia em seu carisma para colocar o seu preferido do momento no Paço Municipal paulistano.

Na segunda-feira, Paulo Maluf (PP-SP) declarou oficialmente o apoio ao PT em encontro com Lula e Haddad na casa de Maluf, no Jardim Europa, zona oeste da capital. Além da estranheza, a união de partidos que se opunham histórica e ideologicamente causou um racha à chapa e críticas por parte de lideranças políticas. Nesta terça-feira, a deputada federal Luiza Erundina (PSB), que concorria a vice de Haddad, abandonou a chapa após manifestar descontentamento com a entrada de Maluf na aliança. Sem plano B, Haddad lamentou a decisão da colega e deve se reunir às pressas com a cúpula petista para decidir o futuro da vaga.

Para o cientista político Gaudêncio Torquato Rego, a experiência vitoriosa com Dilma deu mais segurança a Lula como a figura de principal eleitor no País - na época, Dilma era criticada pela falta de experiência eleitoral. "Ele acredita que pode eleger quem quer que seja, confia que o seu carisma o torna imbatível", afirmou. Gaudêncio credita grande parte da simpatia do ex-presidente a sua história humilde, no nordeste. O ex-presidente nasceu em uma família de agricultores pobres, em Garanhuns (PE). "Ele realmente tem carisma. Não é à toa uma pessoa sair da base para o topo da pirâmide social. Nessas condições, está convicto de que elegerá quem ele escolher", complementou.

Ao bancar a candidatura de Haddad, outra das intenções de Lula é renovar as lideranças políticas petistas. Para isso, acrescentou o cientista político, parte da ideia de que Haddad fez uma boa administração no Ministério da Educação, mas o risco é grande em um cenário de fracasso eleitoral para o ex-ministro. "Se perder a eleição, a derrota será repartida com o seu principal patrocinador", explicou.

Esquerda x Direita

Após a oficialização do apoio ao PT, Paulo Maluf explicou a nova aliança ao declarar que atualmente não existe mais esquerda ou direita na política brasileira. Gaudêncio Torquato Rego afirmou que a política perdeu substância e os partidos ficaram assemelhados. "A democracia representativa vive uma crise crônica mundial. Particularmente no Brasil, ela se faz representar nas semelhanças entre os entes partidários. Não vejo grandes diferenças entre as agremiações grandes ou médias", analisou, concordando com a frase do ex-prefeito de São Paulo. As diferenças ainda existem apenas entre os pequenos partidos nas extremidades do arco ideológico: Psol, PSTU, PCO, entre outros.

O cientista político Edison Nunes é outro que concorda que não há mais direita e esquerda no País. "Vivemos um período que reflete mais um amplo consenso nacional do que de sensos. Não há pauta de esquerda hoje que se diferencie de uma de direita", destacou. O professor acredita que a convergência existente no Congresso Nacional é a base para esse alinhamento político. "Os partidos estão pasteurizados, as ideologias perderam força dentro das siglas. Na crise da democracia representativa o que interessa é a conquista do poder pelo poder", acrescentou Gaudêncio. "O socialismo clássico defendido pelos petistas tornou-se oco e artificial", finalizou o analista político.

Primeira Edição © 2011