Investimento do governo não acompanhou consciência ambiental

18/06/2012 14:39

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Terra

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A falta de empenho dos governos compromete o avanço de uma pauta ambiental para o mundo. Essa é a visão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que afirmou nesta segunda-feira que os investimentos públicos para proteger o ambiente não cresceram na mesma intensidade que a consciência da população.

"Depois da Eco92, a população passou a tomar mais consciência sobre a preservação dos recursos naturais e também passou a atuar mais. Mas nesses 20 anos, essa mudança não veio acompanhada de ações dos governos", disse durante a Rio+20, no Rio de Janeiro.

Fernando Henrique, que completa 81 anos hoje, não quis comentar a atuação do governo brasileiro nas negociações da conferência, mas ressaltou a necessidade de aumentar a ambição em torno de objetivos para os próximos 20 anos. "Não digo que o documento final é fraco, porque sei que é difícil chegar a algum resultado comum, mas pela pressão que existe da sociedade civil e de certos governos, vemos que ainda falta caminhar bastante", comentou.

Ele ainda defendeu o princípio da responsabilidade compartilhada, mas diferenciada entre as nações. No entanto, disse que o Brasil e outras nações em desenvolvimento precisa assumir um comprometimento maior para garantir o financiamento ao desenvolvimento sustentável. "Há muita pressão para que países com crescimento relativo, como o Brasil e a China, participem mais, e eu acho natural que participem mais. Eu entendo que esses países tenham certa restrição de assumir essas metas porque eles serão pressionados a fazer o que os países desenvolvidos não fizeram. Mas enfim, chega o momento de acabar com a briga e agir".

O ex-presidente participou de um encontro do grupo de Elders ("anciões", em inglês), uma organização que reúne lideranças de todo o mundo para discutir temas prioritários para o planeta. "Quando nasci em 1931 a pobreza era impressionante, o analfabetismo atingia 70% da população. Fizemos muitos progressos, mas no passado não tínhamos de lidar com a questão ambiental , mas a geração de hoje precisa ser mais incisiva nesta questão", afirmou ao destacar a importância da participação social no debate sobre o desenvolvimento sustentável.

Sobre a crise econômica, ele disse que esse fator não deve servir para abster algumas nações de atuar para evitar o aquecimento global. "Precisaremos de uma nova área de investimento para enfrentar a crise, não podemos só impor restrições fiscais, mas sim usar a criatividade, pensar em uma nova economia que respeite o ambiente".

No encontro, que também reuniu um grupo de jovens, FHC destacou que é preciso definir logo as mudanças no modelo de produção e consumo, pois as novas gerações estão "impacientes". Ele destacou ainda o papel das ONGs e a força das mídias sociais para pressionar os governos. "Estou convencido que a sociedade civil será ouvida nessas discussões sobre o futuro do planeta". O ex-presidente participou do debate na companhia da ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, da ex-primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, e de um grupo de jovens do Brasil, China, Nigéria e Suécia.

Sobre a Rio+20

Vinte anos após a Eco92, o Rio de Janeiro volta a receber governantes e sociedade civil de diversos países para discutir planos e ações para o futuro do planeta. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorre até o dia 22 de junho na cidade, deverá contribuir para a definição de uma agenda comum sobre o meio ambiente nas próximas décadas, com foco principal na economia verde e na erradicação da pobreza.

Composta por três momentos, a Rio+20 vai até o dia 15 com foco principal na discussão entre representantes governamentais sobre os documentos que posteriormente serão convencionados na Conferência. A partir do dia 16 e até 19 de junho, serão programados eventos com a sociedade civil. Já de 20 a 22 ocorrerá o Segmento de Alto Nível, para o qual é esperada a presença de diversos chefes de Estado e de governo dos países-membros das Nações Unidas.

Apesar dos esforços do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, vários líderes mundiais não estarão presentes, como o presidente americano Barack Obama, a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron. Ainda assim, o governo brasileiro aposta em uma agenda fortalecida após o encontro. 

Primeira Edição © 2011