França: socialistas ganham maioria absoluta

18/06/2012 05:33

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RTP

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Os franceses deram a maioria absoluta aos socialistas de François Hollande, conferindo assim ao novo Presidente um forte mandato para pôr em prática a sua agenda de esquerda. Os resultados oficiais só serão publicados esta segunda-feira à noite, mas o PSF e os seus mais próximos aliados devem obter 315 deputados no Assembleia Nacional de 577 lugares, o que permitirá a Hollande avançar com a sua agenda de crescimento económico sem ter de recorrer a alianças. A taxa de participação eleitoral ficou-se pelos 55,9 por cento.

Contas feitas, o PSF obteve sozinho 300 lugares na câmara baixa do Parlamento, o que só por si lhe confere a maioria absoluta com mais 11 deputados do que o necessário. A isto somam-se os resultados alcançados pelos aliados do MRC e do PRG, que elevam essa vantagem para 315 deputados. 

Domínio absoluto da esquerda

A Assembleia Nacional ficou totalmente dominada pelas forças de esquerda que, no seu conjunto, alcançaram 346 deputados contra 226 da direita parlamentar. No outono passado os socialistas já tinham obtido o controlo do Senado, a câmara alta do Parlamento francês.

Os grandes derrotados da segunda volta das legislativas foram a UMP e os seus aliados. O partido conservador do antigo Presidente Nicolas Sarkozy passou de 304 para 214 lugares . O jornal Le Monde salienta a “hecatombe” de personalidades da UMP, muitas delas apoiantes sarkozistas, que não conseguiram desta vez ser eleitas.

De salientar ainda os bons resultados obtidos à esquerda pelos ecologistas, que apesar dos fracos resultados obtidos nas presidenciais conseguem 18 lugares no Parlamento francês.
Frente Nacional não conseguiu eleger Marine Le Pen

A Frente Nacional também obteve uma vitória pequena mas simbólica, ao conquistar dois lugares no Parlamento, o que levou a líder Marine le Pen a falar de “um enorme sucesso” para o partido que se declara anti-imigração, anti-euro e que diz querer combater a “islamização de França”.

Isto apesar de a própria Marine Le Pen não ter conseguido ser eleita na sua circunscrição, ao invés da sua sobrinha Marion Maréchal-Le Pen, que foi eleita em Carpentras, tonarando-se assim, aos 22 anos, na deputada mais jovem da assembleia francesa.

De registar que, nestas eleições, os socialistas ganharam mais de 100 lugares na câmara baixa do Parlamento, quase todos substraídos aos conservadores que são vistos como responsáveis pelo mau estado da economia pelos altos níveis de desemprego.
Luz verde para os planos de Hollande

François Hollande retira desta vitória plenos poderes para seguir adiante com os seus planos, que incluem a contratação de mais funcionários públicos (60.000 professores), aumentar as taxas sobre os grandes bancos e companhias petrolíferas e impor um imposto de 75 por cento sobre os rendimentos superiores a um milhão de euros por ano.

Para isso, Hollande já definiu as primeiras prioridades no Parlamento, que consistem em adiar para 2017 a obrigação de apresentar um orçamento financeiramente equilibrado prevista no Tratado Europeu de rigor fiscal.

O programa do Presidente socialista passa pelo combate aos paraísos fiscais e pelo encorajamento às companhias a que reinvistam os seus lucros. Hollande quer também obrigar os bancos a separarem as suas atividades tradicionais de depósitos e empréstimos das apostas especulativas por eles realizadas nos mercados financeiros.

Antes mesmo das legislativas, o novo Chefe de Estado francês já tinha cumprido uma das promessas eleitorais, ao avançar com o controverso plano de baixar a idade mínima da reforma dos 62 para os 60 anos, revertendo assim a reforma do sistema que tinha sido feita pelo seu antecessor, Nicolas Sarkozy.

O novo ocupante do Eliseu também cortou em 30 por cento os salários dos ministros do Governo, indo ao encontro das críticas que a opinião pública vinha fazendo aos aumentos realizados durante a era Sarkozy.

Economia francesa passa por dias difícieis

Os problemas que o Presidente socialista e o seu executivo têm pela frente são de monta: A França é um país altamente endividado e a taxa de desemprego atingiu recentemente os dez por cento, o valor mais alto dos últimos 13 anos. Os bancos franceses também estão a ser pressionados e permanecem na mira das agências internacionais de rating.

Apesar destas dificuldades, o forte mandato doméstico do Presidente Hollande vai-lhe permitir afirmar com confiança as suas ideias no plano internacional que passam por estímulos fiscais para fomentar o crescimento da economia.

Na semana passada, Hollande tinha apresentado aos outros líderes europeus a sua proposta de um novo “pacto para o crescimento”, que passa por medidas, no valor de 10 mil milhões de euros, para estimular o crescimento por toda a UE.
"Eixo" franco-alemão sob tensão

Resta saber como reagirá o governo de Berlim e a sua chanceler, que não esconde a sua oposição a qualquer estratégia de crescimento que aumente o endividamento dos Estados.

O “eixo franco-alemão” tem de resto estado submetido a fortes tensões nas últimas semanas, com Angela Merkel a manifestar-se publicamente em oposição aos planos de Hollande para um estímulo governamental e a defender o pacote de austeridade que ela própria desenvolveu, juntamente com o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy.

Pela primeira vez, a França e a Alemanha vão apresentar-se sem um plano comum na importante reunião de líderes europeus que terá lugar no final deste mês.

No entanto, os observadores não têm dúvidas de que as duas maiores economias da Zona Euro terão de chegar a um acordo, sem o qual os esforços para salvar a moeda única estarão condenados ao fracasso. 

Primeira Edição © 2011