CPMI vota quebra de sigilos de Perillo e Agnelo

14/06/2012 05:02

A- A+

Jornal do Brasil

compartilhar:

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga o envolvimento de empresas, políticos e governos com o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, colocará em votação nesta quinta-feira (14) pedidos de quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

Agnelo depôs por dez horas à CPMI nesta quarta e colocou seu sigilo telefônico, fiscal e bancário à disposição dos parlamentares, o que acabou levando Perillo a fazer o mesmo, por meio do líder de seu partido, o deputado Bruno Araújo (SP). Em depoimento, na terça-feira, o governador goiano disse que não via “fundamento jurídico” para a quebra de seus sigilos pela CPMI.

Agnelo negou envolvimento com a organização comandada por Cachoeira e denúncias de enriquecimento ilícito. Ele se disse vítima de uma luta política para desgastar seu governo. “O grupo aqui investigado tramou a minha derrubada”, declarou. “Valeu-se de falsas acusações plantadas na imprensa, valeu-se de pessoas que passaram a divulgar mentiras com o objetivo de me desestabilizar e me tirar do governo do Distrito Federal”, completou.

Entre outros fatos, ele lembrou que o próprio senador Demóstenes Torres (Sem partido-GO), acusado de estar envolvido no esquema descoberto pela Polícia Federal, chegou a pedir seu impeachment.

O embate entre governo e oposição marcou o depoimento, mas o relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG), voltou a afirmar que as evidências da participação da organização criminosa no governo de Goiás são “infinitamente maiores” do que no governo do Distrito Federal. Pelo contrário, ele disse que há indícios de que o governador Agnelo tenha sido alvo dessa organização, mas a CPMI deve continuar investigando as pessoas do governo do DF “que foram tocadas pelos tentáculos de Cachoeira”.

Ao responder às críticas de que havia um jogo combinado com Agnelo Queiroz porque os dois são do mesmo partido, Odair disse que fez todas as perguntas possíveis, tentando estabelecer os possíveis vínculos sociais, políticos e econômicos entre a organização criminosa e o governador do DF. “Os vínculos são muito diferentes do que ocorreram em Goiás. Agnelo nunca esteve com Cachoeira nem há nenhuma ligação telefônica entre os dois”, ressaltou o relator.

Em sua defesa, Agnelo questionou a possível ligação de membros do seu governo com o esquema de Cachoeira. “Se ele [Cachoeira] tinha acesso direto ao governador, por que precisaria corromper funcionários de órgãos do governo para conseguir favorecimento em contratos?”, disse.

Segundo o governador, o único contato que teve com Cachoeira foi uma visita a uma empresa de medicamentos do contraventor situada em Anápolis (GO), quando Agnelo era diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre 2007 e 2010.

“Eu fiz uma visita à Vitapan, que era de propriedade do senhor Cachoeira, e na oportunidade ele estava presente”, disse Agnelo. “Esse foi o único contato que tive com ele. Não tenho absolutamente nada com o senhor Cachoeira”, completou.

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) chegou a se exaltar ao questionar o governador sobre quem teria feito o convite para que ele fizesse vista à Vitapan. Mas apesar dos apelos do parlamentar, Agnelo disse que recebeu o convite da empresa, e fez a visita como a outras empresas do setor quando era diretor da Anvisa. "Um diretor de uma agência trata com pessoas jurídicas", disse Agnelo.

O líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ), disse em entrevista que a visibilidade do escândalo do esquema do contraventor representou um freio de contenção na entrada da organização criminosa no governo do Distrito Federal.

Segundo ele, no entanto, há indícios de que houve uma cooptação de assessores do governador Agnelo Queiroz e que o ex-chefe de gabinete Cláudio Monteiro seria o elo com Cachoeira.

Na opinião de Alencar, apesar desse processo de cooptação, o estágio de infiltração da organização no DF seria bem inferior ao verificado em Goiás.

Nesta quarta, a Procuradoria-Geral da República pediu a abertura de inquérito contra os dois governadores no Superior Tribunal de Justiça, com base nas investigações da Operação Monte Carlo, que levou à prisão de Cachoeira, acusado de corrupção e exploração de jogos ilegais.

Primeira Edição © 2011