Venda da casa foi rigorosamente dentro da lei, diz Perillo

12/06/2012 09:55

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Jornal do Brasil

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O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), afirmou nesta terça-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira que não há contradições no processo de venda da sua casa, negócio que, segundo ele, foi feito "rigorosamente dentro da lei". Em sua fala aos membros da comissão, o tucano classificou de "absurda" a dedução de que teria recebido duas vezes pela venda do imóvel.

Perillo afirmou ter tido pressa em vender a casa, de 450 m², porque precisava de um lugar maior, como governador, para receber convidados. O imóvel, que conforme o tucano foi adquirido com um financiamento da Caixa Econômica Federal, foi anunciado nos classificados. "Se eu soubesse que a venda da casa geraria tanta confusão eu teria continuado a morar nela."

Segundo o governador, o ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez fez uma oferta pelo imóvel e, na hora da escritura, afirmou que não teria recursos para quitar a dívida, de R$ 1,4 milhão. Garcez, conforme Perillo, afirmou que repassaria o negócio ao empresário Walter Paulo Santiago - que é suspeito de atuar como "laranja" de Cachoeira -, e entregou três cheques pré-datados para março, abril e maio de 2011.

Os cheques foram emitidos pela empresa Excitant Confecções Ltda. - que pertenceria a uma cunhada de Cachoeira. A empresa, por sua vez, teria recebido dinheiro da Alberto Pantoja, uma firma fantasma supostamente criada pelo esquema Cachoeira para angariar recursos da empreiteira Delta.

Perillo destacou que só soube por meio da CPI que Garcez pediu dinheiro a Cachoeira. "Não me preocupei em saber quem era o emitente dos cheques, e já lamentei por isso", disse o governador, argumentando que nas práticas usuais de compra e venda ninguém questiona de onde vem o dinheiro. "Não podia exigir de um comprador a explicação ou comprovação de onde vinham os recursos. Só agora, após o depoimento do ex-vereador Wladimir Garcez a esta CPI, é que eu soube que ele havia usado empréstimo de terceiros".

Entretanto, em depoimento à CPI, Santiago negou ter usado cheques na negociação, garantindo ter pagado R$ 1,4 milhão em cédulas de R$ 50 e R$ 100, entregues em "pacotinhos" para Garcez e Lúcio Fiúza Gouthier, então assessor especial de Perillo. Um dia depois da fala do empresário na CPI, Fiúza foi exonerado do cargo.

Santiago atuou no negócio em nome da empresa Maestra, da qual ele se apresentou como administrador. Mesmo sendo adquirida pela empresa, o verdadeiro morador da residência era Cachoeira, que teria arcado inclusive com o pagamento das dívidas de impostos do imóvel.

O governador entregou à comissão as cópias dos cheques e seus extratos bancários dos meses de março, abril e maio do ano passado, quando a compensação foi registrada. E argumentou que se a houvesse algum tipo de irregularidade, não teria anunciado a casa no maior jornal de circulação do Estado.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas. 

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