Financeiras preveem queda na inadimplência com prestações mais baratas na compra de automóveis

Especialistas lembram que o devedor tem também a possibilidade de transferir a dívida para um banco que cobre menos – a chamada portabilidade

27/05/2012 06:35

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Agência Brasil

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A inadimplência dos empréstimos e financiamentos deverá cair após as medidas de estímulo ao crédito e à compra de veículos anunciadas pelo governo no último dia 21, segundo especialistas. A razão é que as novas prestações ficarão mais baratas.

O presidente Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), Décio Carbonari de Almeida, prevê que as prestações serão reduzidas em cerca de 10%, na mesma proporção do índice esperado no valor do carro. Com isso, acredita que as condições para a liberação de crédito, a partir das novas medidas do governo, também serão melhoradas.

Nas suas contas, uma prestação de R$ 500 poderá ser reduzida para R$ 450. “Se a renda mínima exigida é quatro vezes o valor da prestação, o cidadão precisava ter uma renda de R$ 2 mil para uma prestação de R$ 500. Com a queda para R$ 450, a renda [exigida] cai para R$ 1,8 mil”, avaliou.

Segundo ele, abre-se uma janela para que clientes com renda entre R$ 1,8 mil e R$ 2 mil que, até antes das medidas, não tinham condições de ter crédito, agora tenham chance de contratá-lo. Além disso, o cliente de renda alta que compra carro zero à vista também é estimulado, porque vê a oportunidade de trocar de carro com algo em torno de 10% de desconto.

Outro fator importante para reduzir a inadimplência é que, a partir do momento que cai o valor da prestação, o novo cliente terá mais condições de pagar o financiamento do que os clientes anteriores que pagavam mais.

Nos caso dos automóveis, o presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras lembra que é importante separar os financiamentos antigos dos novos para fazer essa avaliação.

Para Carbonari, são questões distintas e a inadimplência que existe atualmente tem relação com financiamentos em andamento, contraídos antes das novas medidas. E uma avaliação mais precisa, informou, só após a divulgação dos dados sobre a inadimplência de maio.

“É prematuro fazer qualquer avaliação já que em abril a curva continuava subindo. Com as novas medidas do governo, teremos que avaliar os novos contratos, os novos financiamentos”, disse à Agência Brasil.

Dados divulgados ontem (25) pelo Banco Central (BC) mostram que a inadimplência do crédito para a compra de veículos atingiu 5,9%, em abril, a maior da série histórica iniciada em 2000.

Para o economista-chefe da Serasa, Luiz Rabi, o aumento da inadimplência do consumidor mostra que as dificuldades de honrar as despesas típicas de início de ano, aliadas ao endividamento crescente da população, se estenderam para além do mês de março, que é considerado o mês mais crítico para quitação de dívidas. Mas ele acredita que a inadimplência tende a cair.

Segundo ele, as medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, associada à política de redução das taxas bancárias de juros, “contribuem, sem dúvida, para a queda da inadimplência”, uma vez que, com juros menores, a dívida fica mais barata.

Além disso, lembrou que o devedor tem também a possibilidade de transferir a dívida para um banco que cobre menos – a chamada portabilidade.

Quem também está otimista quanto à reativação da economia e consequente queda da inadimplência é o presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e da Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy. Ele destaca, porém, que as “medidas pontuais” adotadas para induzir maior crescimento da atividade econômica e industrial, poderiam ser “mais ousadas e abrangentes”.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, bate na mesma tecla e diz que a redução do IPI na venda de automóveis “é importante, mas pontual, e deve ser acompanhada de ações de longo prazo”, que diminuam a carga de impostos.

Braga entende que a desoneração tributária deve ser ampliada, de modo a estender a redução do IPI também para outros setores, beneficiando as cadeias produtivas, e não apenas o produto final. “É preciso desonerar os investimentos e aperfeiçoar o sistema tributário”, recomenda.

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