Artigo| Profetas do plim-plim

18/05/2012 15:05

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Helder Caldeira - colaboração

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Em tempos de renovação dos votos de uma CPMI do Fim do Mundo – que o sociólogo Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, passou a chamar de CPMI das Piruetas da Lógica – perambulam pelas esquinas jornalístico-midiáticas os pseudoprofetas de páginas pomposas. Não são brilhantes profissionais da comunicação. Apenas prestam-se ao coser de lantejoulas em suas palavras. Bem disse o saudoso carnavalesco Joãozinho Trinta: “Quem gosta de miséria é intelectual; pobre gosta de luxo!”. Sejais, pois, brilhoso!

Os movimentos novilúnios da guerra política instaurada já revelam os lobisomens do cenário brasileiro, frutos maduros de uma geração autoritária que não está preparada para a era digital e o amplíssimo ressoar de vozes das redes sociais. O próprio enredo da cômica Comissão “Cachoeirense” Parlamentar Mista de Inquérito é prova inconteste desse desarranjo: só os membros da CPMI não conseguem ter acesso às investigações da Polícia Federal, enviadas ao Congresso Nacional em suposto sigilo de justiça pelo Supremo Tribunal Federal. Boa parte do processo vazou e já está disponível a qualquer internauta em websites de toda natureza.

De um lado da arena ficam os congressistas, ostentando caras aparvalhadas, barrigas de jacaré ressaltadas em mal talhados auxílios-paletó e cabelos acaju. Babões, enquanto acariciam as coxas das “ladies” ou o tanquinho dos michês do casting Mary Corner, não conseguem compreender como uma ferramenta de internet pode ser tão mais poderosa que os palanques e tribunas de antigamente. Há, ainda, um rancor nas entrelinhas, já que relegados aos papeis de amigos da protagonista na Vênus Platinada. E são!

Do outro lado do front, batalhões de repórteres – com ou sem diplomas – são alinhados conforme a ideologia das bigas que os transportam e pagam seus salários. Ao longo das últimas décadas, enterraram o sagrado dever da formação responsável e ética de opinião. Melhor adaptados ao tempo facebookiano, tornaram-se meros “seguidores” de opinião. Podem até ter algum pensamento próprio, mas ele irá pender e depender da logomarca que carregam “no corpo, na alma e no coração”. São “feras feridas”... às vezes, fedidas.

Daí, funciona assim: o presidente do grupo editorial e seu editor-chefe são flagrados em grampos telefônicos confundindo ética jornalística com usucapião mercadológico da informação; estes, por sua vez, escalam seus melhores títeres para darem plantões como articulistas bem versados, doutores na ciência contemporânea da difamação rasteira; de quebra, convencem os “eternos chapa-branca da casa-grande” – como classificou o célebre Mino Carta – a estabelecer uma aliança “baba-ovo” em seus meios médios (perdoem a redundância, mas não resisti à tentação!).

Mandachuvas alinhados, os repórteres-soldados têm convicção de que só serão publicados e lidos, vistos e endeusados, quando empunhados das armas exigidas pelos senhores do feudo jornalístico. Suas reais opiniões pouco importam. O que vale nessa hora são os dogmas corporativos, a manutenção do “status celebrity” e boa dose de criatividade ficcional para forjar notícias, plantar fatos e comentários e até defender o indefensável, se o chefe mandar. Prestam-se à figuração como buchas-de-canhão na arena de guerra.

Aquele que nega o papel de serviçal das ideologias casagrandenses, não será vítima apenas do silêncio e da geladeira da dita “grande mídia”, mídia-média. Será perseguido e demonizado. A máquina editorial do feudo tratará de destruir sua reputação em praça pública, alçando sua cabeça em ponta de lança para que sirva de exemplo aos que planejam qualquer inconfidência profissional.

Reza o ditado: “quem pode, pode; quem não pode, se sacode”. Para manter seus salários, sustentar suas famílias, garantir o pão de cada dia e alimentar alguns sentimentos ególatras, jornalistas enfiam a ética e a responsabilidade na lata do lixo e se tornam arautos do “rei-nú”. “Vida longa ao rei”, bradam pelas vielas do Brasil os profetas do plim-plim.

Primeira Edição © 2011