Emocionada, Dilma empossa integrantes da Comissão da Verdade

No fim de seu discurso, com a voz embargada, Dilma pediu que o Brasil não fique à totalidade de sua história

16/05/2012 12:11

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Estadão.com.br

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Em uma solenidade marcada por emoção, a presidente Dilma Rousseff empossou, nesta quarta-feira, 16, os sete integrantes da Comissão da Verdade: Cláudio Fonteles, Gilson Dipp, José Carlos Dias, José Paulo Cavalcanti, Maria Rita Kehl, Paulo Sérgio Pinheiro e Rosa Maria Cardoso. Depois assinou o decreto da Lei 2527, de 18 de novembro de 2011, que regulamenta a comissão.

Em seu discurso, Dilma destacou a colaboração de governos que a antecederam e disse que todos trabalharam para a criação da comissão. No fim de seu discurso, com a voz embargada, Dilma pediu que o Brasil não fique à totalidade de sua história. “A ignorância não é pacífica, pelo contrário, mantém latentes, mágoas e controles. A sombra e a mentira não são capazes de prover a concórdia”, disse ela e emocionada citou as vítimas da ditadura e seus parentes. “A força pode esconder a verdade, o medo pode adiá-la, mas o tempo pode trazê-la à luz. Hoje esse tempo chegou.”

Antes de Dilma, falaram o representante das Nações Unidas, Américo Incalcaterra e José Carlos Dias, um dos membros da Comissão da Verdade. Incalcaterra destacou a importância para a democracia de um país. “O desenvolvimento (da comissão) é um passo essencial para curar as feridas do País”, afirmou. Ele no entanto, pontuou que as investigações são “decisivas para impulsionar reformas de direitos humanos no futuro mas não substituem o julgamento dos crimes”.

Já José Carlos Dias destacou que “se bem conduzidos, os trabalhos representarão uma institucionalizada memória coletiva”. “Haveremos de encontrar um caminho próprio para oferecer à nação. Ela se dá bem tarde perto da data em que (os fatos) ocorreram, mas acontecem depois de três presidentes que sofreram os abusos daquela época”, afirmou em referência à FHC, Lula e Dilma. Em tom eloquente, Dias afirmou que “jovens daquela época viveram o sonho da contestação, o que não justifica os atos de violência praticandos por agentes do Estado”. Por fim, mandou um recado à nação brasileira e fez um paralelo à obra de Dom Paulo Evaristo Arns, Brasil Nunca Mais, que traz relatos de crimes de tortura: “podem confiar, presidentes e nação brasileira, honraremos o pedido. Não somos os donos da verdade, mas nos comprometemos a dar ao nosso trabalho o Esforço Nunca Mais”.

Solenidade

O evento que empossou o grupo da Comissão da Verdade contou com a presença de todo o corpo ministerial do governo Dilma, dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Collor (PTB), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e José Sarney (PMDB), familiares de desaparecidos políticos e militantes de direitos humanos.
O grupo deve iniciar ainda nesta quarta a primeira reunião para discutir o plano de trabalho para os dois anos de investigação. De acordo com dados publicados no documento Direito à Memória e à Verdade, do governo, são 150 casos de opositores do regime militar que, depois de presos ou sequestrados por agentes do Estado, desapareceram. A prisão deles não foi registrada em nenhum tribunal ou presídio, os advogados não foram notificados e os familiares até hoje procuram esclarecimentos.

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