Caso Cachoeira vai levar trabalhadores às ruas, diz jurista

02/05/2012 05:15

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Jornal do Brasil

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A sequência de denúncias envolvendo parlamentares brasileiros e entidades públicas com o bicheiro goiano Carlinhos Cachoeira vai levar o povo às ruas em breve em uma grande marcha contra a corrupção. Essa é a opinião do jurista Ives Gandra, doutor em Direito com mais de 40 livros publicados, entrevistado pelo Jornal do Brasil nesta terça-feira, Dia do Trabalho.

O advogado vê na luta pelo combate à corrupção a mola propulsora do exercício da cidadania dos trabalhadores. "A classe trabalhadora não sabe bem o que está acontecendo, mas quando ocorre um caso de grande repercussão, é como se jogassem uma luz sobre o que ocorre nos porões do poder. Com casos deste tipo, o povo passa a reagir com passeatas. Assim, os trabalhadores exercem a cidadania", disse o jurista, sem querer comentar as denúncias que envolvem o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), o deputado federal Stephan Nercessian (PPS-RJ), e os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e de Brasília, Agnelo Queiroz (PT), além de outros políticos.

Para Gandra, há que se apurar todas as denúncias o quanto antes. "A simples apuração das denúncias já pode ser considerada um diferencial. É para a realização dessas apurações que todos nós - sobretudo a classe trabalhadora - devemos lutar. É um momento difícil, mas os trabalhadores não podem ficar desacreditados. É hora de despertar para a cidadania e para a mudança."

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira. 

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