Ambientalistas flagram crimes ambientais e descomprimento de embargo do IMA em Guaxuma

Nesta segunda-feira, 16, ONG Movida deve apresentar denúncia formal ao IMA contra a construtora que é reincidente

16/04/2012 08:54

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Jessica Pacheco

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O que era para ser apenas uma trilha ecológica acabou em um flagrante de descumprimento de embargo judicial em uma área de preservação permanente (APP) ao lado do SESC Guaxuma, litoral norte de Maceió. O flagrante foi realizado neste domingo (15), por ambientalistas da ONG MOVIDA que realizava a trilha a convite do Sesc Alagoas que pretende realizar trabalho de compensação ambiental naquele local.

Jessica PachecoO Sesc Guaxuma, localizado às margens da rodovia AL-101 Norte, é dono de uma imensa área de preservação permanente, com topos de morros, mata atlântica e a nascente do Rio Guaxuma. Contudo, a degradação humana e a evolução em tempos de pouca preocupação com a natureza, fez com grande parte daquela natureza se deteriorasse e, agora, com uma política de preservação e compensação ambiental mais firme, a entidade buscou a ajuda da ONG alagoana Movimento Pela Vida (Movida), que trabalha com a promoção da educação ambiental em Alagoas, para tentar recuperar a área e realizar um trabalho de educação ambiental com a população circunvizinha.

“O Sesc está preservando a sua área, realiza um trabalho de compensação ambiental, mas a degradação dessa natureza já é assustadora. Agora está pior, pois estão chegando moradores, construindo casas em áreas de preservação, sem saneamento, o que está prejudicando ainda mais essa mata”, explicou Fernando Antônio Veras, ambientalista presidente da Movida. “Nós fomos procurados pelo gerente dessa unidade do Sesc, Genaldo Pereira, e ele nós pediu essa ajuda”, explicou.

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Como uma primeira ação, a ONG ambiental resolve realizar uma espécie de reconhecimento de área, para ver o grau de degradação naquela região. Com ajuda de um morador local, Plínio, os ambientalistas fizeram a trilha tradicional do Sesc Guaxuma, saindo do estacionamento do local, e entrando mata a dentro.

Trilha Ecológica Sesc Guaxuma – “A natureza pede socorro”

A entidade já trabalha com passeios ecológicos para o público, mas neste domingo não se tratava apenas de diversão, o grupo de ambientalistas, guiados por Plínio e sob os conhecimentos do presidente do Movida, Fernando Veras, que é botânico, ecólogo, agrônomo, etnólogo e educador ambiental, conheceram todo o meio ambiente daquele local.

Jessica Pacheco“Aqui nos temos árvores nativas da Mata Atlântica. Temos árvores próprias daqui do Estado e também plantas de outras regiões do mundo”, explicava Veras. “No meio do morro, encontramos uma área em estágio avançado de desertificação, isso é para vermos que não acontece só no sertão. E área de erosão, por conta da degradação do homem”, disse. “Plantas com fungos, não vemos muitas aves, pois a degradação aqui já é grande e nós precisamos viabilizar a volta desses animais para essa área”.

Na nascente do Rio Guaxuma, a cena era ainda mais triste. Não havia mais água, exceto uma pequena possa com minúsculos peixinhos fadados à morte já que em pouco tempo aquela água também deve sumir. De acordo com Veras, o problema maior do Rio Guaxuma encontra-se em um trecho localizado fora da área do Sesc Guaxuma, onde o dono do terreno construiu uma estrada por cima.

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“Dizem que essa nascente tinha mais de 2 metros de profundidade e hoje é só areia, a nascente agora é subterrânea. Mais pra frente vamos encontrar o rio, mas o nível da água não passa de um filete, com profundidade do tamanho de uma palma [mão]”, lamentou Fernando.

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Flagrante de descumprimento de embargo do IMA

Jessica PachecoAo lado do Sesc Guaxuma, no lado esquerdo do Rio Guaxuma, o dono do área, a Construtora de Terraplenagem iniciou obras no local, com aterros em topos de morros, que são considerados áreas de preservação permanente.

“Ela [a empresa] realizou aterros nessas áreas e quando chove, essa terra desce e provoca o assoreamento do rio. Essa obra foi embargada, mas a desgraça já foi feita, e a recuperação? A gente precisa fazer alguma coisa urgente para segurar esse material que está descendo para o Riacho e está assoreando”, explicou o presidente do Movida.

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Em quanto realizava a terraplanagem nos morros, a Construtora também iniciou a construção de uma estrada que ligava o local a bairros da Serraria e o Benedito Bentes, estrada essa que também foi embargada pela IMA. Contudo, de acordo com o morador do local, Plínio, no sábado (15), um trator e mais duas caçambas estavam no local dando continuidade à obra.

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Jessica PachecoContinuando a trilha, os ambientalistas comprovaram a denúncia e encontraram a estrada cortando o rio. Fotos foram tiradas do local para comprovar o descumprimento e nesta segunda-feira (16), representantes do Movida vão até a sede IMA protocolar a denúncia com documentos, relatório e imagens do local e, mais uma vez, o dono daquele terreno deverá ser punido pelo órgão ambiental.

Educação Ambiental: SESC e MOVIDA se unem em prol do meio ambiente

Além das construções irregulares feita pelo empresário, os ambientalistas ainda flagraram o crescimento desordenado e irregular de um conjunto entre os morros. Segundo Fernando Veras, muitas vezes essa população nem sabe que não pode construir naquela área, e às vezes não sabe nem que o que é uma APP e a falta de estrutura, saneamento básico e educação ambiental causam grandes prejuízos ambientais.

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Por isso, segundo Veras, o Sesc Alagoas procurou a ONG ambiental buscando conscientizar essa população através de serviços de educação ambiental, que serão desenvolvidos pela ONG com ajuda do Sesc e também, projeto de recuperação daquela área.

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“Além da degradação, quando essas casas começaram a chegar aí, começou a descer lixo para o rio, e a preocupação do Sesc é que isso aqui vire um segundo Salgadinho. Nós precisamos recuperar essas áreas, mas o mais importante é desenvolver trabalho de conscientização com essa população”, disse Veras.
 

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