Promotores do DF são relacionados a Cachoeira em grampos da polícia

Pelo áudio, membros do MP passavam informações confidenciais ao GDF. Três pessoas citadas nas gravações da PF deixaram o governo do DF.

13/04/2012 08:08

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G1

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Dois promotores do Ministério Público do Distrito Federal aparecem nas escutas telefônicas da Polícia Federal, realizadas pela Operação Monte Carlo, que investiga o contraventor Carlos Cachoeira, suspeito de comandar um esquema de jogo ilegal em Goiás.

Pelos grampos, os promotores passariam informações confidenciais ao governo do DF. O contato seria com Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete de Agnelo Queiroz. As conversas que citam os promotores são entre Marcelão, Marcello de Oliveira Lopes, ex-funcionário da Casa Militar, e Dadá, Idalberto Matias, assessor de Carlos Cachoeira.

Dadá: Eu estive anteontem no Ministério Público falando com o Wilton, com o Libânio.
Ele tá querendo falar com o Cláudio, cara. Já ligou várias vezes, mas o Cláudio não atende e tal.

Marcelão: Ah é, quem?

Dadá: O Wilton.

Marcelão: O Wilton, é? Falar o que com o Cláudio?

Dadá: Quer dar uns toques lá pra ele do governo, dos troços que ‘apareceu’ lá e tal, tal...
Tem um negócio de governo que os caras estão vacilando, tão vacilando, entendeu?
Marcelão: Beleza, se quiser, ele vai lá direto. Tu consegue levar ele direto? Sem fazer aquele

esquema?

Dadá: Quem? Levar lá o Cláudio? Nosso amigo?
Marcelão: É, é.

Dadá: Levo, pô, a gente vai lá, entra lá de manhã, que não tem ninguém. Dez horas da manhã, entra pela garagem lá e fala com ele.

Os promotores citados são Wilton Queiroz de Lima e Libânio Alves Rodrigues. Libânio não foi encontrado pela equipe de reportagem para comentar a gravação.

Lima admitiu já ter recebido Dadá diversas vezes. Segundo o promotor, Idalberto Matias era fonte para outras investigações do Ministério Público.

Marcello Lopes, ex-assessor de Agnelo Queiroz, disse que o nome dele está sendo usado para atingir o governador. O advogado de Lopes, Jorge Amarante, informou que a relação do seu cliente com Carlinhos Cachoeira não envolvia negócios com o governo.

Cláudio Monteiro nega envolvimento com o grupo de Cachoeira. Depois de deixar o governo, ele disponibilizou seus sigilos fiscal, bancário e telefônico. Disse que pretende processar a PF e as pessoas que o citaram nas gravações.

Exonerados

Desde o início do escândalo envolvendo o contraventor Carlos Cachoeira, três pessoas ligadas ao governo do Distrito Federal foram exoneradas por terem os nomes citados nas escutas telefônicas da Polícia Federal.

Além de Cláudio Monteiro, ex- chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz, e Marcello de Oliveira, ex-assessor na Casa Militar, nesta quinta-feira (12), João Carlos Feitoza, o Zunga, deixou a Fundação de Amparo ao Preso.

Zunga seria, segundo a polícia, o contato entre o governador Agnelo e o bicheiro Carlos Cachoeira.

Dadá: O Zunga me ligou aqui, está querendo falar com você, que o chefe dele lá, o “01”, o Magrão, tá querendo..não falou o que que é. Disse que tá ligando e você não está atendendo.

Mas falei: Qual é o assunto? Aí ele falou que é o Magrão. Magrão que eu entendi deve ser o “01”, né não? Quer falar com você.

Cachoeira: Vou falar com ele.

“01” ou Magrão, segundo a Polícia Federal, seria o governador Agnelo Queiroz. Na quarta-feira (11), o governador falou que nunca havia estado com o empresário Carlinhos Cachoeira.

Nesta quinta-feira (12), porém, o porta-voz do GDF afirmou que Agnelo se encontrou com

Cachoeira em “2009 ou 2010”.

Outras conversas gravadas pela PF mostram que Zunga já tinha contatos com o grupo de Cachoeira. Em abril de 2011, ele passa para Rosalvo Simprini Cruz, homem que seria responsável pela movimentação financeira das máquinas caça-níqueis, dados para depósito bancário.

Zunga: Precisava ver contigo, cara. Se dá pra gente fazer aquela parada amanhã mais cedo, pela manhã, até meio-dia mais ou menos.

Rosalvo: Ainda vou ter que correr atrás amanhã, Zunga.

Zunga: Pois é, cara. Eu vou viajar uma hora mais ou menos.

Rosalvo: É, não sei. Vai depender do recebimento. Pode falar o número da conta.

Em nome de quem?

Zunga: João Carlos Feitoza.

João Carlos Feitoza, o Zunga, não foi encontrado para comentar as gravações.

Primeira Edição © 2011