Após esfriamento, visita de Dilma pode aprofundar relação com EUA

06/04/2012 15:03

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BBC Brasil

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Quando a presidente Dilma Rousseff der início a sua visita de dois dias aos EUA, nas próximas segunda e terça-feira, tentará aprofundar uma relação bilateral que é ampla, mas superficial, na opinião de analistas que discutiram a viagem durante um evento em Washington nesta semana.

A decisão da presidente de fazer metade de sua agenda na cidade de Boston – sede da prestigiosa Universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Techonology (MIT) – deixa claro o quanto a visita se concentrará na questão dos intercâmbios de pessoas e de ideias.

Uma década de crescimento econômico fez da mão-de-obra qualificada um recurso escasso no Brasil – um tendão de Aquiles para o desenvolvimento e um empecilho que Dilma tem tentado combater.

Ela deve promover nos EUA o programa Ciência Sem Fronteiras, que pretende conceder mais de 100 mil bolsas a estudantes de graduação e pós. A grande maioria é de brasileiros que querem estudar no exterior, e grande parte deve ter como destino os EUA.

Em Washington, além de encontros com o presidente Barack Obama, Dilma deve discursar ao fim de um seminário empresarial promovido pela Câmara Americana de Comércio.

A ocasião servirá para promover a colaboração entre empresas brasileiras e americanas, abrindo espaço para a inovação.

Parcerias
No passado, as colaborações entre Brasil e EUA nos campos da agricultura, aviação civil e energia ajudaram o Brasil a se tornar um líder mundial em todos esses setores.

Com a atual investida, a presidente Dilma Rousseff quer promover uma qualificação da mão-de-obra e atrair parcerias que possam injetar inovação na economia brasileira.

"O Brasil melhorou até um certo nível, mas para avançar mais precisa resolver problemas domésticos estruturais, fazer sérias reformas", disse o diretor do Brazil Institute do centro de pesquisas Woodrow Wilson, Paulo Sotero.

É nesse contexto que Dilma decidiu que o tópico da sua visita serão coisas que funcionaram no passado, que têm a ver com educação, ciência e tecnologia, aspectos que podem melhorar a qualidade do desenvolvimento.

A viagem ocorre pouco mais de um ano após Dilma receber o presidente americano, Barack Obama, em Brasília.

Na época, analistas avaliaram que Obama pretendia "refundar" as relações com o Brasil. No plano diplomático, os países estavam à deriva um do outro, após o veemente rechaço americano ao esboço de um acordo nuclear negociado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega turco com o Irã.

Nas Américas, o recém-empossado governo hondurenho, ao qual Brasil e EUA se opuseram a princípio, também foi alvo de atritos, depois que Washington cedeu às pressões domésticas e reconheceu o governo de Porfírio Lobo.

"Esta visita é uma continuação do exercício de retomar a confiança mútua, que começou com a visita de Obama", disse o diretor do Brazil Institute.

Entretanto, a decisão do governo americano de não receber a presidente Dilma em visita de Estado tem criado polêmica e, para muitos, enviado precisamente um sinal contrário a essa resolução.

"Dilma vem com uma abordagem muito mais de botar a mão na massa, de fazer negócios. Mas é possível notar, entre os seus diplomatas, que há uma certa decepção por esta visita não ser de Estado", avaliou o analista João Augusto de Castro Neves, do think tank Eurasia Group em Washington.

"O Brasil se compara a Índia e China, que tiveram recepções de Estado. Hoje, o Brasil se vê como uma importante potência emergente, com uma agenda global", acrescentou. 

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