Após cirurgia, Chávez retorna à Venezuela em ritmo de campanha

Aliados já trabalham com a possibilidade de que a doença de Chávez o impeça de ser candidato

18/03/2012 08:42

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BBC Brasil

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De volta a Venezuela após três semanas em Cuba para tratamento de uma recorrência do câncer, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse neste sábado que a continuidade de seu governo é a "garantia" de paz e estabilidade no país e que a volta da oposição ao poder desencadearia um onda de violência.

Apesar da reaparição do câncer, Chávez mantem sua candidatura à reeleição no pleito de outubro. Seu opositor, é o candidato de centro-direita Henrique Capriles Radonski, atual governador do Estado de Miranda.

"Se algo a direita garante é a violência, o caos, porque nos odeiam, odeiam o povo", disse Chávez, diante de uma multidão de simpatizantes reunidos em frente à chamada "Varanda do Povo", balcão usado para discursos na sede do governo.

"Nós somos a garantia de paz e estabilidade para nosso povo (...)criamos as bases sólidas da República e temos uma Venezuela estabilizada no político, social e militar", afirmou, para acrescentar que antes de seu governo o país estava enterrado em um permanente "terremoto político".

Chávez retornou de Havana na noite da sexta-feira depois de passar três semanas na ilha para a retirada de uma nova lesão cancerígena que teria reaparecido na região pélvica, mesmo local onde um tumor fora retirado no ano passado.

Aparentemente abatido, Chávez tentou mostrar disposição. Antes de começar a discursar, cantou duas canções tradicionais venezuelanas acompanhado de um músico.

Sob sol forte, Chávez não deu muitos detalhes sobre o desenvolvimento da doença ou sobre o tratamento que deverá seguir a partir de agora. Neste sábado, ele se limitou a reiterar que será submetido a tratamento com radioterapia e prometeu "viver".

"Agora tenho que começar o tratamento da radioterapia para afastar qualquer ameaça (...) esse câncer não poderá com Chávez", disse.
O presidente admitiu que a luta contra o câncer "não tem sido fácil", mas que tem "muita fé em Deus (...) e o compromisso de viver", afirmou.

Reeleição

A doença do presidente abala o cenário político venezuelano a pouco mais de seis meses para as eleições, consideradas cruciais pelo próprio Chávez.

"Não se trata de uma batalha qualquer, está em jogo o futuro da revolução", disse.
Há pelo menos três cenários possíveis na atual conjuntura. O primeiro é que Chávez assuma a campanha, ainda que em ritmo mais leve.

Outra possibilidade é que não tenha saúde suficiente para conduzir o processo, assumindo uma espécie de campanha virtual.

A terceiro possibilidade é aquela na qual tenha de retirar sua candidatura e nomear um substituto para liderar o projeto chavista.

Esse último cenário - rejeitado tanto pela cúpula do governo como por simpatizantes da revolução bolivariana, que acreditam na recuperação do presidente - revela o grau de dependência do projeto bolivariano à figura de Chávez. A base de sustentação do governo diz não acreditar no "chavismo sem Chávez"

Nos últimos discursos, Chávez tem sinalizado que está disposto a se "sacrificar" para garantir a vitória eleitoral - o que pode representar um risco para a efetividade do tratamento contra o câncer.

Blogueiros opositores e parte da imprensa internacional circulam novos rumores de que o estado de saúde do mandatário é mais grave do que o governo tem sinalizado.

Campanha

De olho na movimentação da candidatura de Radonski em todo o país, Chávez pediu a seus colaboradores que trabalhem "sem descanso" até outubro, para garantir a vitória eleitoral.
Chávez, que de acordo com pesquisas de opinião aparece com pelo menos 20 pontos de vantagem sobre o candidato opositor, admitiu que se trata de uma disputa difícil.

"Não vamos cair no triunfalismo. Essa batalha é dura e será dura, mas a ganharemos e para ganhá-la teremos que trabalhar muito duro todos esses dias que vêem", disse Chávez.

Em uma mensagem dirigida aos chavistas descontentes e àqueles aliados que passaram a disputar internamente o poder, Chávez voltou a pedir "unidade" e eficiência na gestão do governo.

Aqui estou de novo, no retorno permanente, carregado de força e vontade de viver", afirmou.

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