Ministro Pimentel vai ao México negociar acordo automotivo

O Brasil também quer a inclusão de veículos pesados no acordo de livre comércio

12/03/2012 13:59

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Folha

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O ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, viaja ao México amanhã (13) para retomar as negociações de uma possível revisão do acordo automotivo entre os dois países, informou o ministério nesta segunda-feira.

Desde a semana passada, as duas maiores economias da América Latina têm trocado correspondências com propostas de revisão, mas um acordo ainda parece longe de ser alcançado, principalmente depois que o Brasil exigiu a criação de um mecanismo de quotas para a importação de veículos do México.

O governo brasileiro pediu que o México limite o valor das suas exportações de automóveis para o Brasil para cerca de US$ 1,4 bilhão para os próximos três anos como parte de um conjunto de demandas para renegociar o acordo do comércio automotivo entre os dois países. A cota foi o valor médio anual das exportações de automóveis do México para o Brasil nos últimos três anos, de acordo com uma carta datada de 8 de março à chanceler mexicana Patricia Espinosa e ao ministro da Economia Bruno Ferrari.

Os mexicanos teriam ficado irritados com as negociações por carta e na sexta-feira exigiram que as conversas ocorressem "cara a cara", disse uma fonte do México à Reuters.

Pimentel e o secretário de economia do México, Bruno Ferrari, conversaram por telefone na sexta-feira e tentaram reduzir um pouco as tensões da negociação, segundo uma fonte do governo brasileiro.

Uma fonte mexicana, porém, disse que as cotas poderiam ser consideradas, desde que levassem em conta as exportações de veículos do México para o Brasil no ano passado, "mais um percentual".

Contudo, oficialmente o México ainda não anunciou a rejeição à proposta brasileira, apesar de a embaixada mexicana informar que uma resposta formal foi encaminhada ao governo brasileiro na sexta-feira.

Antes de viajar para retomar pessoalmente as negociações, Pimentel se reuniu nesta segunda com a presidente Dilma Rousseff.

No ano passado, o Brasil importou US$ 2,072 bilhões em automóveis e comerciais leves do México. Daqui pra lá, foram US$ 512,3 milhões, gerando um deficit para o Brasil de US$ 1,559 bilhão na balança comercial do setor.

Em janeiro e fevereiro, o Brasil importou 38,6 mil veículos do México, número 250% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Desde o começo do ano, os governos brasileiro e mexicano negociam a revisão do acordo automotivo. Em valores, a alta é de 227%.

PEÇAS NACIONAIS

Representantes dos dois países se reuniram em Brasília no fim de fevereiro para discutir formas de equilibrar a balança comercial. O secretário executivo do Mdic, Alessandro Teixeira, disse no começo de março que o Brasil quer que o México eleve o percentual de peças nacionais dos seus veículos.

"Os mexicanos vieram porque queremos discutir agregação de conteúdo local", afirmou. Hoje, o índice para que um carro seja considerado mexicano é de somente 30%. No Brasil esse índice é de 65%.

O estabelecimento de um índice de nacionalização comum aos dois países é considerado crucial pelo governo brasileiro, já que desde dezembro o Brasil cobra 30 pontos percentuais a mais de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de carros que não sejam fabricados no país, no Mercosul ou no México.

O raciocínio é: de que adianta barrar a entrada de importados, com o objetivo de estimular investimentos das montadoras na produção em território brasileiro, se os mexicanos, que não estão sujeitos à alta do imposto, exigem um percentual muito menor do que o Brasil?

"Seria fácil as montadoras mandarem para cá, sem bancarem o IPI maior, veículos em tese produzidos no México, mas com alto percentual de peças produzidas, por exemplo, na China", observou à Folha uma fonte brasileira próxima às negociações entre os dois países, que preferiu não se identificar.

CÁLCULO MAIS RÍGIDO

A dificuldade de se estabelecer um índice comum é o fato de o México usar um cálculo distinto do brasileiro para se chegar ao percentual.

Além disso, o Brasil planeja tornar mais rígida sua própria forma de calcular o índice. Hoje, a conta é feita em cima da formação do preço do carro, que abrange itens tão diferentes quanto gastos com marketing, produção e até o lucro da montadora.

O governo quer que o índice passe a ser calculado, a partir de 2013, exclusivamente em cima da produção industrial, o que exigiria investimentos mais pesados por parte das montadoras.

COTAS FLEXÍVEIS

Uma das principais propostas na mesa para limitar as importações de veículos mexicanos é a adoção do chamado regime "flex", em que quanto menos um país importa do outro, menos pode exportar. Outra opção é o estabelecimento de cotas fixas.

O Brasil também quer a inclusão de veículos pesados no acordo de livre comércio.

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