A.C.Camargo e Zoológico de SP se unem para estudar câncer em animais selvagens

12/03/2012 07:09

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Divulgação

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Patologistas e veterinários acompanham evolução clínica de mamíferos, aves, répteis e anfíbios e investigam fatores que levam ao diagnóstico de tumores malignos em animais selvagens. Hipopótamo fêmea, Tetéia, morreu em 2011 com sarcoma ósseo com metástases no pulmão e coração. Casos de câncer foram registrados também em leão, onça, tigre, lagarto, cutia, tamanduá, entre outros. O objetivo é estabelecer meios avançados de diagnóstico de câncer em animais selvagens, criar um banco de tumores no Zoo e identificar genes que sejam marcadores prognósticos e possíveis alvos terapêuticos, cruzando as informações com câncer em humanos.

Desenhada a partir do primeiro semestre de 2011, a parceria entre o Núcleo de Anatomia Patológica do Hospital A.C.Camargo e a Fundação Parque Zoológico de São Paulo nasceu com a proposta do estudo da patologia comparada de câncer, entre as ações de promoção da qualidade de vida aos mais de 3 mil animais selvagens que vivem no zoo paulista, por meio da adoção de estratégias que envolvem diagnóstico clínico, por imagem e molecular.

Unindo os esforços de veterinários - que conhecem o histórico clínico dos animais – com a experiência em diagnóstico molecular de patologistas do A.C.Camargo, tornou-se possível realizar biópsias de tecidos de diferentes espécies para indicar a existência ou não de câncer, apontando as características da doença como tamanho do tumor, grau de agressividade, potencial de gerar metástases, dentre outras.

Com liderança do patologista e diretor de Anatomia Patológica do A.C.Camargo, Fernando Soares, já foram realizados estudos em tecidos de doze animais selvagens com suspeita de câncer, e alguns casos foram diagnosticados. O exemplo mais emblemático é o da hipopótamo Tetéia, que morreu em agosto de 2011 aos 53 anos e foi descoberto que ela apresentava câncer do tipo sarcoma indiferenciado na articulação da tíbia direita.

Mais velha do que a maioria dos hipopótamos, que vivem até 35 anos em média na vida selvagem e, portanto, com maior possibilidade de ser acometida pelo câncer, Tetéia fazia parte de um grupo de animais de grande porte que dificulta a realização de exames diagnósticos. “É muito mais complexo realizar exames em hipopótamos, girafas, elefantes. Um simples raio-x exige uma logística imensa”, explica o diretor técnico-científico do Zoo de SP, João Batista da Cruz.

Segundo Cruz, o zoológico dispõe de cinco médicos veterinários, que acompanham diariamente o comportamento clínico dos animais e realizam exames de rotina como exames hematológicos, de fezes, de urina, endoscopias, radiografias, dentre outros. Com todos estes cuidados, que incluem alimentação balanceada e ambiente seguro, a expectativa de vida dos animais em cativeiro aumenta, crescendo também a relação com o câncer. “Se os cânceres aparecem em animais de zoológico é porque estes têm a vida mais prolongada, assim como ocorre com os humanos”, observa Cruz.

Segundo o diretor do Zoo, não há uma estatística que aponte quanto anos a mais vivem os animais em cativeiro em comparação aos que estão na selva, mas ele estima, por observação, que seja um aumento médio de 15% a 20%. “Dentro do zoo os animais não estão expostos aos diversos fatores que neles causa grande estresse como as questões climáticas, a falta de alimentos, necessidade de fugir de predadores ou de ser o predador. Além disso, quando fica velho, o animal na selva se torna presa fácil para os predadores e é abandonado por seu grupo de animais”, exemplifica.

João Batista da Cruz lembra que os animais não fumam, mas estão expostos à poluição; não bebem, mas consomem alimentos também usados pelos humanos como legumes e vegetais e, portanto, também sofrem influência de fatores ambientais que podem ser cancerígenos.

Amplitude científica – Ao dar o pontapé inicial na parceria, o patologista Fernando Soares juntamente com sua equipe de Anatomia Patológica do A.C.Camargo, encantou-se com o material sobre a história clínica dos animais, registrada desde a fundação do Zoo em 1958. “Nossa proposta é montar aqui um banco de tumores nos mesmos moldes que temos no Hospital, com tecidos congelados, blocos de parafina e lâminas”, destaca Fernando Soares.

De acordo com o cientista, este material propiciará a identificação de fatores ambientais envolvidos na alteração celular que leva ao câncer e quais são os genes envolvidos neste processo. “Poderemos vislumbrar a identificação de genes que possam apontar o prognóstico para determinados animais e também estabelecer alvos terapêuticos, ou seja, saber onde atacar a doença e com quais técnicas”, explica Soares.

Outro aspecto destacado na parceria é a possibilidade de se cruzar as informações com o que hoje é sabido sobre a diversidade histopatológica dos tumores em humanos. “Um tamanduá, por exemplo, que por ventura desenvolva câncer de fígado mesmo sem nunca ter consumido bebida alcoólica ou desenvolvido quadro de hepatite por ter hábitos diferentes dos humanos, chamaria a nossa atenção e buscaríamos identificar onde se escondem os fatores que levaram à doença”, disse Soares.

Criados em zoológico, a longevidade dos animais selvagens é ampliada, atingindo, por exemplo, a média de 45 anos para primatas como os chimpanzés, outros mamíferos como camelos (45 anos), elefantes africanos (60), girafas (28) e onças-pintadas (25) e aves como psitacideos (60).

Sobre o Hospital A.C.Camargo - Instituição filantrópica criada em 1953 por Antônio e Carmen Prudente, o Hospital A.C.Camargo é um dos maiores centros de tratamento oncológico da América Latina. De forma integrada e multidisciplinar, atua na prevenção, diagnóstico e tratamento ambulatorial e cirúrgico dos mais de 800 tipos de câncer identificados pela Medicina, divididos em mais de 40 especialidades. A cada ano identifica e trata 14 mil novos casos da doença, com pacientes de diversas partes do país e exterior, totalizando mais de 950 mil atendimentos (consultas, exames laboratoriais e por imagem, internações, cirurgias, quimioterapia e radioterapia, entre outros). Seu corpo clínico é composto por uma equipe fechada de 403 médicos especialistas, a maior parte com mestrado e doutorado. A dedicação e interação destes profissionais em atividades interdisciplinares resulta em um tratamento com melhores índices de sucesso, só comparáveis aos observados nos maiores centros oncológicos do mundo.

Na área de ensino, o A.C.Camargo criou a 1ª Residência em Oncologia do país, em 1953, tendo formado em 2010 o seu milésimo residente. É também responsável pela formação de um em cada três oncologistas em atividade no Brasil. Sua pós-graduação, criada em 1997, é a única em um hospital privado reconhecida pelo Ministério da Educação e foi avaliada com nota máxima durante toda essa década pela CAPES, tornando-se assim, entre escolas públicas e privadas, a melhor do país em Oncologia e uma das duas melhores em Medicina. Tem a maior produção científica da área, com mais de mil trabalhos publicados na última década nas principais revistas internacionais de alto impacto. Centralizou em 2000 o Genoma do Câncer no Brasil, financiado pela FAPESP e Instituto Ludwig.

Em 2011, o Hospital foi eleito pela terceira vez uma das melhores empresas para Você trabalhar do Guia Você S/A Exame. Em 2009, o Hospital foi apontado pela edição 500 Melhores Empresas da revista Istoé Dinheiro como uma das melhores em Saúde pelo terceiro ano consecutivo e pela segunda vez consecutiva entre as 10 melhores empresas de serviços médicos do Brasil na Gestão de Pessoas, de acordo com o anuário Valor Carreira.

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