"Satanás", "Olho de Burra" e "Galego" foram presos durante Operação. A quadrilha agia em cidades do Sertão e do Agreste de Alagoas
Fran Ribeiro
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Foram apresentados na tarde desta sexta-feira (9), durante coletiva na sede da Polícia Civil em Jacarecica, os três principais integrantes da quadrilha que há meses, aterrorizou municípios do Agreste e do Sertão de Alagoas. Anderson Souza Cruz, de 25 anos, também conhecido por “Galego”, João Paulo, de 18 anos, vulgo “Satanás”, e, José Francisco Silva, 32 anos, o “Olho de Burra”, foram presos no último dia 7, durante uma operação desencadeada na cidade sergipana de Canindé do São Francisco.
Entre os 18 crimes atribuídos a quadrilha na qual Anderson é apontado como o líder, que é natural de Sergipe, está o assalto à fazenda do deputado Antonio Albuquerque, em Limoeiro de Anadia, ocorrido no dia 03 de fevereiro, que acabou com o seu filho, Nivaldo Neto, baleado. Esse, segundo o delegado-geral da Polícia Civil de Alagoas, José Edson de Freitas, o principal crime cometido pelo bando.
Logo após esse crime, começou a força-tarefa da Defesa Social para prender a quadrilha. De forma rápida, como classificou Freitas, conseguiu capturar seis pessoas que davam o apoio logístico ao restante dos integrantes, que eram os autores materiais de uma série de assaltos. De acordo com os dados apresentados pela delegada da Divisão Especial de Investigação e Capturas (Deic), Ana Luíza Nogueira, a quadrilha agiu em pelo menos 11 municípios do Agreste e do Sertão alagoano. O foco das ações eram os roubos de veículos e residências.
Modus Operandi
O grupo agia da seguinte forma: eles roubavam um veículo para usá-lo durante os assaltos às residências. Depois dos furtos, os carros eram abandonados em lixões ou terrenos distantes. Entre os assaltos registrados estão o da casa do delegado Adalberto Meira, ocorrido no dia 1º de fevereiro em Palmeira dos Índios, à casa da prefeita de Santana do Ipanema, Renilde Bulhões, no dia 05 deste mês, a casa de um empresário em Olho d’ Água das Flores, e à Delegacia Regional de Pão de Açúcar, esses realizados na terça-feira (06). Ainda segundo a delegada, pelo menos o roubo a oito veículos são atribuídos ao grupo, e o assalto a 10 residências.
O trio foi classificado como extremamente perigosos, agressivos e não se intimidavam facilmente. As vítimas eram abordadas de forma truculenta, e os acusados não se intimidavam em usar as armas. Segundo dos delegados, o mais agressivo do grupo era João Paulo, o “Satanás”, que era o primeiro a entrar durante as invasões.
Operação São Francisco
Na operação denominada de “São Francisco”, encabeçada pela polícia de Sergipe, vinha investigando ações criminosas na região do Vale do São Francisco. Na cidade de Canindé do São Francisco, a quadrilha mantinha uma casa, que servia de apoio para que os produtos dos furtos e armas eram armazenadas. “Era o ‘porto seguro’ da quadrilha, que se mantinha e vivia às margens do São Francisco”, informou Ana Luíza. As investigações realizadas pelo Deic, Polícia Militar de Alagoas em conjunto a Polícia de Sergipe localizaram o local. A partir daí, começaram os trabalhos de captura dos três acusados.
Na noite da terça-feira (6), agentes do Tigre, Pelopes, Deic e PM de Alagoas em ação com policias sergipanos, montaram “tocaia” na caatinga, próximo a residência. Nas primeiras horas da manhã da quarta-feira (7), a operação invadiu a residência. Com auxílio de monitoração aérea, a Polícia Militar fechou as principais vias de acesso entre Alagoas e Sergipe. Policiais do 7º BPM de Santana do Ipanema, do 9º BPM de Delmiro Gouveia e do 10º BPM de Palmeira dos Índios participaram da operação. Ao todo, cerca de 50 agentes das Polícias de Alagoas e de Sergipe atuaram na captura dos acusados. Os mandatos de prisão, busca e apreensão foram expedidos por juízes da 17ª Vara Criminal da Capital. Agentes do Gecoc (Grupo Estadual de Combate ao Crime Organizado) também participaram das investigações.
Segundo o delegado Kelman Vieira, que compôs a comissão designada para comandar as investigações junto a Ana Luíza Nogueira e o delegado Maurício Henrique, os três foragidos não apresentaram resistência à prisão. “Eles não resistiram. O que eles fizeram foi usar suas esposas como escudo humano, mas não houve troca de tiros”.
Na casa apontada como o QG, uma grande quantidade de armas e objetos roubados foram apreendidos. E o poderio bélico do grupo era grande. Quatro pistolas .380, duas .40, duas ,635, além de uma carabina .30 e um fuzil .762 e munição diversificada. Também foram apreendidas várias jóias, relógios Rolex de ouro, equipamentos eletrônicos e celulares. Do armamento furtado da Delegacia de Pão de Açúcar estava, duas pistolas .40, dois revólveres calibre 38, uma metralhadora 9mm, e uma escopeta calibre 12. Para a imprensa, Anderson Cruz disse que a indicação para o assalto a DP partiu de um policial militar de pão de Açúcar.
“Ele disse pra gente ir na (sic) delegacia, que lá tinha uma grande quantidade de armas e drogas, para que a gente o deixasse em paz”. Anderson não informou o nome do policial, que seria uma vítima de mais um assalto.
Uma moto com placa de Arapiraca também foi apreendida. De acordo com Kelman Vieira, o veículo pertencia a “Olho de Burra”. “A moto custou R$ 20 mil e foi adquirida com produtos dos furtos. O acusado andava com a moto por toda Canindé de São Francisco, ostentando o poder da quadrilha para a população”. Ainda segundo as informações passadas durante a coletiva , o grupo teria em Alagoas outros dois pontos de referência. Uma na cidade de Piranhas e outra casa em um terreno de difícil acesso, que pertencia a “Olho de Burra”, próximo ao bairro Manoel Teles, na cidade de Arapiraca. “Depois que as seis primeiras pessoas que integravam a quadrilha foram presas, identificamos os locais. Em Arapiraca, o grupo guardava o armamento. Depois tudo foi concentrado em Canindé”, revelou Vieira.
Presos apresentam diferentes versões sobre o atentado contra Nivaldo Neto
Um dos presos, o taxista que auxiliou o grupo na invasão à fazenda de Antonio Albuquerque, que se entregou à polícia logo após a divulgação de seu envolvimento no crime, segundo o delegado Kelman Vieira, apresentou uma versão diferente do restante da quadrilha. Jormário Francisco de Farias, em depoimento, disse que teria sigo coagido pelo bando a participar do assalto a fazenda. Porém, Anderson, o “Galego” deu outra versão.
“O Jormário entrou em contradição durante o depoimento. Ele disse que foi coagido, mas o resto do grupo disse que ele que indicou o local. O real motivo da invasão da fazenda ainda será investigado”, disse Vieira.
Ao ser questionado pelos jornalistas o real motivo de ter roubado a fazenda de Albuquerque, Anderson foi incisivo. “Aquele Jormário está mentindo. Foi ele que levou a gente até lá”. O taxista, segundo Vieira, conhecia a família Albuquerque. “Ele levou uns tapas na cara de um dos capangas e foi lá na fazendo no outro dia para se vingar”, revelou “Galego”.
Sobre a autoria dos disparos que atingiram Nivaldo Albuquerque Neto, Anderson confirmou que partiu de sua arma. “Eles atiraram e eu só revidei. Se eu quisesse ter matado ele (sic), teria descarregado arma”, contou. O acusado revelou ainda que só roubou a Hilux da propriedade, porque os "capangas" de Albuquerque tentaram persegui-lo e o carro que ele estava, um Siena 1.4, não era potente o suficiente para escapar.
O caso continua sob investigação da Polícia Civil. De acordo com o delegado-geral José Edson de Freitas, as diligências terão prosseguimento e não está descartada a participação de mais pessoas na quadrilha.
Primeira Edição © 2011