"Tsunami" cambial terá medidas de contenção

Governo promete empenho para impedir invasão de dólares

01/03/2012 13:21

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O governo afinou ainda mais o discurso para se defender da guerra cambial e está empenhado em criar barreiras para conter o "tsunami" de dólares que tem atingido o país e forçando uma valorização excessiva do real.

Depois de elevar para 6% a taxação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre captação externa de até 3 anos nesta quinta-feira, a promessa é que novas medidas podem ser adotadas para conter desvios cambiais.

A palavra mais forte veio da presidente Dilma Rousseff, que criticou as políticas monetárias expansionistas adotadas por países desenvolvidos para enfrentar a atual crise econômica internacional.

"Nós nos preocupamos, sim, com esse tsunami monetário (usado pelos) países desenvolvidos que não usam políticas fiscais de ampliação da capacidade de investimento para retomar e sair da crise que estão metidos", afirmou Dilma em cerimônia com empresários e sindicalistas.

"Eles compensam essa rigidez fiscal com uma política monetária absolutamente inconsequente do ponto de vista do que ela produz nos mercados internacionais", acrescentou.

O dólar chegou a ser cotado abaixo de R$ 1,70 nesta semana, patamar que o governo não quer por entender que fere a competição econômica.

Mais medidas à vista
Em outra frente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sustentou que o governo continuará tomando novas medidas para impedir a valorização excessiva do real frente ao dólar.

"O governo não ficará assistindo impassível a guerra cambial, temos que nos defender", afirmou Mantega em entrevista coletiva. "O governo continuará tomando medidas para impedir que o real se valorize, prejudicando a produção brasileira", emendou.

A medida anunciada nesta quinta-feira, no entanto, gera ceticismo no mercado, uma vez que tende a ter pouco impacto nos planos de captações de empresas brasileiras no exterior. Isso porque normalmente as companhias buscam recursos lá fora com prazos mais longos.

Em 2012, até aqui, empresas brasileiras já levantaram cerca de US$ 18 bilhões com a venda de bônus no exterior. Nenhum dos títulos têm prazo de vencimento inferior a cinco anos.

O ministro enfatizou que o foco é conter a entrada de investidores que preferem atuar na especulação de curto prazo, mas evitou afirmar qual seria o patamar ideal para o câmbio. "Aqueles que trabalham assim têm que ser penalizados e pagarão alguma coisa", disse.

"Quem quiser pegar dinheiro no curto prazo que é para especular, para fazer aplicação financeira, vai pagar o IOF", acrescentou Mantega.

O problema é que a tendência de forte entrada de dólares no país deve permanecer. Na quarta-feira, por exemplo, o Banco Central Europeu (BCE) injetou 530 bilhões de euros nas instituições financeiras que estão atravessando turbulência por conta da crise na zona da moeda única. A expectativa é de que parte desses recursos vá para mercados emergentes, como o Brasil, que têm bons rendimentos.

Mantega afirmou que o país torna-se atrativo porque bancos, sobretudo europeus, estão avessos ao risco de aplicar em países ou instituições da zona do euro cuja alavancagem e exposição à países frágeis, como Portugal, Itália e Grécia, é muito alta.

Apesar de o ministro negar, o governo ainda tem na mesa a possibilidade de retomar a taxação do IOF sobre aplicação de estrangeiros na bolsa de valores, como informou uma fonte da equipe econômica. Hoje essa alíquota é zero.

O governo reduziu a zero o IOF sobre câmbio contratado por investidor estrangeiro que transferir do exterior de recursos para aplicação no país em certificado de depósito de valores mobiliários, denominado Brazilian Depositary Receipts (BDR), que antes era de 6% também.  

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