Síria abandona debate na ONU sobre violência no país

O representante sírio acusou o Conselho de Direitos Humanos da ONU de estar "disposto a violar seu próprio mandato e regulamento"

28/02/2012 11:27

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EFE

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A Síria abandonou nesta terça-feira (28) o debate especial realizado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU para abordar a situação de violência no país, ao considerar que se trata de um "debate estéril", que só procura potencializar a rebelião armada.

"O único objetivo deste período de sessões é atiçar as chamas do terrorismo e potencializar a crise em meu país com medidas de apoio a grupos armados", manifestou o embaixador sírio, Faisal al Hamwi, que após seu discurso abandonou a sala do Conselho.

Al Hamwi considerou que por trás da pressão da comunidade internacional para que Damasco permita a entrada de organizações de assistência humanitária no país está o desejo de interferir militarmente na Síria e propiciar uma mudança de regime.

O representante sírio acusou o Conselho de Direitos Humanos da ONU de estar "disposto a violar seu próprio mandato e regulamento", e de ter se transformado em "um brinquedo nas mãos de alguns países", "manipulando os conceitos de ajuda e assistência humanitária à população civil por razões políticas".

"Declaramos que não reconhecemos a legitimidade deste período de sessões", disse o embaixador, que afirmou que a Síria não foi consultada em nenhum momento para a preparação do debate como Estado interessado e que, em todo caso, o Conselho da ONU não é o fórum adequado para tratar de assistência humanitária.

Al Hamwi afirmou que as "graves distorções do conceito da proteção humanitária e da proteção civil" serviram de argumento para alguns países para "encobrir intervenções armadas flagrantes e mudar regimes".

"Estamos diante de um plano preestabelecido para atacar o Estado sírio e suas instituições sob o pretexto das necessidades humanitárias", acrescentou o embaixador, que criticou os países que se declaram amigos da Síria e aprovam sanções econômicas que representam um atentado contra os direitos dos civis sírios.

"As sanções econômicas unilaterais e injustas impostas por alguns países contra o povo sírio impedem o acesso a remédios, vacinas, alimentos e combustível. Elas representam a pior violação dos direitos humanos, porque prejudicam em primeiro lugar, e sobretudo, a população civil", declarou.

O embaixador indicou ainda que os grupos armados de oposição "se valem de áreas residenciais para instalar suas bases, enquanto atacam as infraestruturas do Estado, incluindo os hospitais".

Após sua saída, foi a vez do discurso do representante da Rússia, país que, junto à China, vetou no Conselho de Segurança da ONU o aumento da pressão internacional contra a Síria.
O vice-ministro das Relações Exteriores russo, Gennady Gatilov, disse que "a politização do debate não vai contribuir para solucionar a crise na Síria" e fez um apelo "aos grupos armados e aqueles que os apoiam para impedir que a situação humanitária piore ainda mais" em diversas cidades da Síria.

Por parte dos Estados Unidos, a secretária-adjunta do Departamento de Estado, Esther Brimmer, insistiu que o presidente sírio, Bashar Al Assad, "deve sair" para que possa se formar "um novo governo democrático que responda às aspirações do povo sírio".

Os EUA e a União Europeia (UE) apoiaram a minuta de resolução apresentada na segunda-feira à noite pela Turquia e Catar, que volta a condenar as graves violações dos direitos humanos na Síria e exige a autorização para o acesso humanitário, que deve ser submetida a votação no Conselho na quinta-feira (01).

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