Kyra Gracie perto de migrar ao MMA

Pentacampeã de jiu-jitsu treina boxe, com exercícios voltados ao MMA, e tenta convencer família Gracie a aceitar mudança. ‘Vou acabar indo’, diz ela

17/02/2012 04:57

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Globo Esporte

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Ao encontrar Kyra Gracie na sala de casa, esparramada no sofá, com os pés livres de calçados e unhas pintadas de rosa, rindo solta, é preciso um bocado de imaginação para visualizá-la lutando no MMA. Apesar da musculatura visivelmente desenhada pelos exercícios, das panturrilhas aos ombros, ela parece delicada demais para as pancadas do octógono. Aos 26 anos, tem um jeito que pende mais para os 20 do que para os 30. Mas bate forte – como provam seus cinco títulos mundiais no jiu-jitsu. E está muito propensa a migrar para o MMA.

- Eu acho que vou mesmo. Vou acabar indo...

O plano não é novo. Mas vive seu ápice. Kyra está treinando boxe, com movimentos já voltados ao MMA, justamente pensando em mudar de modalidade. Ela já recebeu convites. Eles estão em análise. O lado feminino da linhagem da família Gracie nas lutas quer unir dois pontos: a certeza de que competirá em alto nível e a viabilidade comercial do projeto.

- É um todo. Tem que ter uma organização legal, tenho que estar preparada, tem que ter patrocínio. São várias coisas que interferem.

Kyra não está totalmente decidida. E não estabelece prazos. Com mais um Mundial da arte suave pela frente, se equilibra em um calendário apertado, com lutas, viagens, competições. Mas o mais importante a morena já tem: a vontade. Ela foi seduzida pelo MMA.

- Amo o esporte. O MMA cresceu junto comigo, com minha família. Assisti a meus tios e primos lutando. Eu vibro a cada luta. E o MMA feminino está crescendo agora. Teve agora o Strikeforce. Eles fizeram a luta principal da noite ser entre mulheres, em TV aberta nos Estados Unidos, com uma repercussão muito grande. Está crescendo. Tem várias meninas muito talentosas. Algumas são muito fortes, botam até medo de entrar no ringue. Mas acho que é um caminho. As meninas vão começar a migrar para o MMA.

Não existe uma necessidade, nos pensamentos de Kyra, de deixar o jiu-jítsu. Longe disso. Ela é feliz ali. Mais ainda: ela é top de linha ali. Mas sua alma é puxada pelo ímã da adrenalina. Ela quer surfar nessa onda. Quer viver um sentimento novo.
- Seria uma adrenalina diferente da que estou acostumada a sentir. A adrenalina faz parte da minha vida. É assim desde que comecei a competir.
Ela já teve provas da força do esporte. No Japão, ficou boquiaberta com multidões ao redor do octógono.
- Seria diferente lutar em um ginásio lotado. Quando eu ia assistir aos eventos dos meus tios, no Japão, tinha 110 mil pessoas. No Tokyo Dome, da última vez que fui, tinha 80 mil pessoas. Deve ser uma coisa diferente de sentir.

Garotinha da família

Kyra Gracie é uma mulher bonita. Muito bonita. Ela sabe que sua imagem no esporte é atrelada a isso. E parece lidar bem com a situação. Ao receber a reportagem do GLOBOESPORTE.COM e posar para quase duas centenas de fotos, fez caras e bocas, com a naturalidade de quem está acostumada aos flashes. Chegou a dar sugestões ao fotógrafo. Ao ver imagens em que estava quase impecável, pediu para que fossem feitas novamente – culpa de uma franja caída, de um queixo pouco levantado, de um cotovelo mais proeminente. Queria a perfeição.

Não por acaso, a faixa preta é a queridinha da família. Não por acaso, rolam ciúmes entre os Gracie. Eles não gostam de ver Kyra muito exposta. Boa parte da família é contrária à entrada dela no MMA.

- Eles são super contra. Não querem. Dizem: “Deixa que o MMA a gente faz. Fica no jiu-jítsu só”. Viu só o preconceito? – comenta Kyra, rindo da situação.

A cara feia de alguns parentes não é novidade. Aconteceu o mesmo quando ela deu sinais de que levaria o esporte para a vida toda. Mas Kyra está convicta de que receberá o apoio familiar se for para o MMA.

- Quando comecei no jiu-jítsu, foi assim também. Eles não queriam. Não me incentivaram. Dentro da família, todo Gracie que nasce tem um quimono, tem um tatame, brinca de jiu-jítsu. Fui aprendendo defesa pessoal, e quando comecei a levar a sério, eles falaram: “Kyra, está bom já. Você é menina. Não vai chegar a lugar nenhum com o jiu-jítsu. Deixa isso pra gente”.

Acho que eles eram um pouquinho ciumentos também... (risos) Tive que ir contra eles para fazer o que eu queria. Com o MMA, já estou meio que os convencendo. Já mostrei pra eles que era o que eu queria, que levei a sério. Tenho certeza de que se eu entrar no MMA, eles vão me apoiar. Tenho que convencê-los um pouquinho ainda...

De confianças e certezas

Kyra está confiante de que poderá lutar em alto nível no MMA. O desempenho na arte suave impulsiona a crença. Ali está, na visão dela, a base da competição no octógono.

- O jiu-jítsu é muito completo. Para você estar no MMA, se não souber jiu-jítsu, já era. Todos os campeões são faixa preta. Tenho tudo para poder me sair bem ali. Só falta adaptar meu treinamento. Eu não entraria se não estivesse preparada, não.

A neta de Robson Gracie só quer entrar no MMA se for para vencer. Assim que estiver totalmente convencida a fazer a migração, promete mergulhar no novo desafio.

- No jiu-jítsu, me propus a fazer daquilo a minha vida, para ser a melhor. Se eu entrar no MMA, vou entrar de cabeça também, para tentar fazer meu melhor. Espero que esteja pronta para entrar em um nível bem alto.

Primeira Edição © 2011