Reuniões testam força diplomática da China junto a EUA e Europa

14/02/2012 13:13

A- A+

BBC Brasil

compartilhar:

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, recebeu nesta terça-feira representantes europeus em Pequim, mesmo dia em que o homem mais cotado como próximo presidente chinês, Xi Jinping, realiza visita oficial aos Estados Unidos, em dois episódios vistos como um teste para o poder diplomático do país asiático em meio à crise que afeta a zona do euro e ameaça a economia global.

Nesta terça-feira, altos representantes da União Europeia (UE) se encontraram em Pequim com o premiê chinês, além de outras autoridades do país, para alinhavar as relações entre as partes e uma possível colaboração em um planejado fundo de resgate europeu.

Por sua vez, o vice-presidente chinês Xi Jinping se encontrou, em Washington, com o presidente americano, Barack Obama, no que muitos veem como o maior passo dado pelo dirigente, tido como favorito para assumir a presidência da China, em termos de política externa.

Cooperação com a Europa

Em Pequim, o primeiro-ministro Wen Jiabao ofereceu cooperação para ajudar a estabilizar a situação econômica dos países da UE, mas não fez nenhuma promessa específica de investimentos no fundo de resgate.

Líderes da Europa estão em busca de dinheiro chinês para ajudar a tirar do papel o fundo, de cerca de 500 bilhões de euros (cerca de R$ 1,13 trilhão).

Em uma entrevista coletiva conjunta com o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, Wen Jiabao disse que seu país está disposto a 'aumentar seu envolvimento' nas tentativas de estabilizar a zona do euro.

'A China está firme em seu apoio ao lado da UE ao lidar com os problemas da dívida. Nós casamos nossas palavras com nossas ações', disse Wen.

Ele reiterou que a China apoia a UE e disse esperar que o bloco continue a 'enviar sinais claros, fortes e positivos' de estabilidade, mas não disse claramente que investiria em um fundo de resgate.

Um comunicado divulgado logo depois dos diálogos levantou 31 pontos de concordância, abrangendo diversos assuntos, desde segurança cibernética até desenvolvimento urbano, mas sem fazer referência à crise da zona do euro.

A repórteres, Van Rompuy disse que os comentários de Wen são bem-vindos. 'É papel da China tomar sua própria decisão no sentido de contribuir com a estabilidade da zona do euro', disse o presidente do Conselho Europeu.

'Nós concordamos que vamos cooperar um com o outro nesses assuntos', afirmou.

Fracasso em Pequim

No entanto, analistas dizem que a delegação da UE aparentemente fracassou em obter o comprometimento sólido que esperavam da China.

Na semana passada, Wen e outras autoridades chinesas no FMI alertaram que uma recessão na Europa poderia afetar as taxas de crescimento do país.

A Europa é o maior parceiro comercial da China, com um fluxo de 560 bilhões de euros comercializado entre o bloco e o país asiático no último ano.

Enquanto isso, a crise na zona do euro se intensifica. A agência de classificação Moody's rebaixou nesta terça-feira as notas das dívidas da Espanha, da Itália e de Portugal, além de rebaixar as perspectivas de crédito para França, Reino Unido e Áustria.

No último domingo, a Grécia aprovou um impopular pacote de cortes de gastos, exigida pela UE e pelo FMI, em troca de uma ajuda financeira de 130 bilhões de euros.

Encontro na Casa Branca

Em Washington, Xi Jinping foi recebido na Casa Branca pelo presidente americano, Barack Obama, que, ao recebê-lo, classificou a cooperação entre EUA e China como sendo do 'interesse mundial', segundo a agência AP.

A visita do possível próximo líder chinês a Washington é a mais importante feita por um dirigente do país asiático aos EUA desde que o governo Obama estabeleceu a região asiática do Pacífico como prioridade diplomática.

Segundo o analista de assuntos internacionais da BBC Nick Childs, os encontros em Pequim e Washington mostram o quanto a UE, os EUA e a própria China estão tentando lidar com a ascensão chinesa como um grande ator no cenário internacional.

Para todas as partes, diz Childs, as relações são complicadas e em evolução, tendo a interdependência financeira - em face à crise na zona do euro - como maior preocupação.

No caso da relação entre EUA e China, existe a dimensão estratégica de inevitáveis atritos entre uma superpotência consolidada e uma outra emergente, ambas tentando conviver entre si, diz o analista da BBC.

A inclinação do governo americano na direção do Pacífico, por exemplo, foi vista como uma resposta à postura mais agressiva da China na região. A medida contrariou o governo de Pequim.

Já a Europa, segundo Childs, precisa focar no equilíbrio entre seu relacionamento com a China e as tentativas de administrar seus laços futuros com Washington.

O analista da BBC afirma que as recentes iniciativas diplomáticas chinesas em relação ao Irã e à Síria - dois casos de preocupação entre países ocidentais - também evidenciam o maior peso diplomático e estratégico da China no cenário internacional.

Primeira Edição © 2011