Itália condena dois por mortes relacionadas à contaminação por amianto

Ex-diretores da Eternit são condenados por negligência por uso de material em materiais de construção que causou 2 mil vítimas

14/02/2012 09:37

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Um tribunal da Itália condenou a 16 anos de prisão dois ex-diretores da multinacional Eternit por negligência, considerando-os responsáveis por cerca de 2 mil mortes atribuídas ao uso de amianto em materiais de construção produzidos pela empresa.

A decisão, anunciada na segunda-feira, foi considerada “histórica” pelo ministro da Saúde da Itália, Renato Balduzzi, e comemorada com gritos, aplausos e choro por familiares das vítimas.

O ex-proprietário do grupo, o bilionário suíço Stephan Schmidheiny, de 65 anos, e o ex-acionista belga, o barão Jean-Louis Marie Ghislain de Cartier de Marchienne, de 91 anos, foram condenados por terem “provocado uma catástrofe” de modo intencional ao violar regras de segurança em suas fábricas da Itália, que funcionaram de 1976 a 1986.

O julgamento, que começou em 2009, é o maior até agora relacionado ao uso de amianto, um mineral fibroso que causa doença pulmonares e câncer, segundo organizações internacionais. Usado durante décadas como material milagroso por sua resistência ao calor e ao fogo, o amianto foi proibido em toda a União Europeia em 2005.

A defesa negou a responsabilidade direta dos dois acusados, que nunca estiveram presentes às audiências, sendo condenados à revelia. Eles devem apelar da sentença.

De acordo com a promotoria, tanto o barão belga quanto o bilionário suíço, mesmo sabendo que o amianto era perigoso, decidiram manter suas fábricas abertas sem aconselhar o uso de luvas e máscaras aos empregados como primeira medida de proteção.

A sentença também prevê o pagamento de dezenas de milhões de euros à Associação Medicina Democrática e a várias prefeituras, como a de Casale Monferrato, a cidade com o maior número de mortos.

Uma enorme faixa com os dizeres "Eternit Justiça" foi colocada na sala de audiências, na qual estavam presentes representantes das vítimas de outros países, como a França.

"Trabalhávamos sem nenhuma proteção", recordou Piero Ferraris, filho de Evasio, que morreu de câncer, em 1988, aos 63 anos, depois de ter trabalhado na fábrica da Eternit de Casale Monferrato de 1946 a 1979.

"Casale é uma cidade mártir, cheia de gente doente", comentou Remo Viotto, de 77 anos, que trabalhou por 32 anos como caminhoneiro da Eternit e luta há 18 anos contra um câncer.

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