Brasuca treina time de Jackie Chan e brilha na Ásia

Há quase dois anos no comando do Sun Hei, Ricardo Rambo é finalista de torneio em Hong Kong que qualifica campeão para Champions da Ásia

07/02/2012 05:25

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Globo Esporte

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Nome de herói e uma missão: classificar o Sunray Cave JC Sun Hei, time da Primeira Divisão de Hong Kong, para a Liga dos Campeões asiática. Essa é a meta do técnico brasileiro Ricardo Rambo ("nome de batismo, e não apelido", explica), que há mais 13 anos vive na Ásia e atualmente comanda o Sun Hei, time patrocinado pelo ator chinês Jackie Chan e quinto colocado do campeonato local com 17 pontos.

Em Hong Kong - uma pequena região administrativa especial da China -, o treinador gaúcho Ricardo Rambo é referência. O ex-zagueiro do Santos, Internacional e Náutico encerrou sua carreira como jogador no futebol local em 2006, defendendo o Happy Valley. E foi exatamente no time onde pendurou as chuteiras que iniciou sua trajetória como técnico. Depois de passagens pelo Rangers, South China e TSW Pegasus, assumiu o comando do Sun Hei há quase dois anos.

– O Casemiro Mior, meu ex- técnico no Colorado, estava trabalhando no South China em 1998 e me convidou para atuar na equipe. Lá fiquei um ano e depois defendi outros times chineses, além de ter uma passagem também no Líbano. Ao retornar para a China fui convidado pelo presidente do Happy Valley para ser jogador e assistente técnico do clube. A idade já estava chegando, eu tinha o interesse de virar treinador e dei inicio a minha preparação para o cargo com cursos no Brasil e na Inglaterra. Hoje estou muito feliz no Sun Hei – lembrou Rambo, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.

Agora, seguindo um novo caminho, o técnico vem despontando no futebol asiático e já acumula títulos. Mas um em especial pode ser conquistado pelo brasuca no próximo dia 18 de fevereiro, quando o Sun Hei enfrenta o South China, na final da Shield Cup, torneio que qualifica o campeão à Champions da Ásia.

– No futebol de Hong Kong, temos a First division league, que se equivale ao Campeonato Brasileiro. No decorrer do ano, também existem três copas a serem disputadas: Shield Cup, FA Cup e League Cup. Entre campeonatos e copas, fui campeão da Primeira Divisão e da League Cup com o South China na temporada 2007/2008; ganhei as três copas na temporada seguinte com o TSW Pegasus e, em 2009/2010, venci de novo a FA Cup. Agora pelo Sun Hei, sonho com uma vaga na Liga dos Campeões da Ásia, mas para isso precisamos ser campeões da Shield Cup – afirmou.

Stallone x Jackie Chan

Esbanjando bom-humor, o treinador revelou algumas situações engraçadas que ocorreram em função da semelhança de seu nome com o do herói do cinema protagonizado por Sylvester Stallone (e que não foi homenagem ao personagem do cinema inspirado em um livro publicado em 1972, um ano depois do nascimento do Rambo brasileiro).

– Meu nome de batismo é José Ricardo Rambo. As pessoas sempre acham que Rambo é apelido. No curso que fiz na Inglaterra para técnico, ficaram surpresos em saber que é meu sobrenome. E sempre tem as brincadeiras: Rambo, aonde está a faixa? Achei que você era mais forte! Quando será seu novo filme? – disse.

Apesar de não ter conhecido Stallone, o brasileiro teve através do futebol a oportunidade de ter um encontro com um dos atores orientais de maior sucesso na história de Hollywood: o chinês Jackie Chan. Nesta temporada, a equipe comandada por Rambo, antes somente chamada de Sun Hei, mudou seu nome para Sunray Cave JC Sun Hei, devido ao patrocínio da empresa Sunray Cave e do Grupo JC, cujo dono é Jackie Chan (torcedor ilustre do time).

O poderio econômico da China, uma das cinco nações consideradas emergentes ao lado de Brasil, Rússia, Índia e África do Sul, chama a atenção do mundo. Mas esse crescimento não se limita apenas ao setor financeiro e abre novas perspectivas para o futebol no país. Esse novo capítulo da história do esporte parece agradar o brasileiro, que analisa o futebol de Hong Kong.

– Inicialmente, preciso deixar claro que o Campeonato Chinês e o Campeonato de Hong Kong são distintos. A China atravessa um bom momento econômico e ainda vai crescer muito no cenário esportivo. No entanto, no futebol de Hong Kong, a possibilidade de crescimento pode ocorrer em um futuro não muito próximo, pois os investidores concentram-se apenas em um ou dois times e não em um todo. No Sun Hei, temos patrocinadores chineses que também investem na liga de lá. Os investimentos são pequenos, mas o governo está interessado em ajudar – afirmou.

Com propriedade no assunto, Rambo também criticou as condições de trabalho no futebol local. Segundo ele, os problemas de estrutura dos clubes são recorrentes.

– Por exemplo, alguns clubes daqui ainda não possuem sede própria. Por possuirmos apenas dez times no campeonato local, a organização deixa muito a desejar e isso dificulta o trabalho do treinador. Mas agora a Federação de Hong kong está dando um passo importante: criou o projeto Phoenix para promover bons investimentos com o objetivo de elevar o nível profissionalismo. Então, o que posso dizer é que a estrutura vai melhorar e muito – analisou.

Outra situação evidenciada pelo treinador gaúcho é o índice de popularidade que o futebol tem na região.

– Posso dizer que corrida de cavalo é o esporte mais popular aqui, pois gostam muito de apostas. Diria que o futebol vem em segundo lugar e depois o tênis. O futebol daqui sofre muita influência do Campeonato Inglês até pelo fato de Kong Hong ter sido colônia inglesa. 

Há pouco tempo, dois astros do futebol britânico jogaram aqui: o Nicky Butt, ex-Newcastle, e o Kezman, ex-Chelsea. Ambos atuaram pelo South China – disse.

Os quase dez anos como jogador na Ásia foram importantes para o brasuca entender a mentalidade dos chineses na transição para a carreira de técnico. Apesar da pouca visibilidade, o mercado de Hong Kong tem atraído muitos atletas brasileiros, mas o problema com o idioma é constante, explicou.

– Existem muitos compatriotas: dois ou três por equipe. No Sun Hei, temos o Cristiano Cordeiro (zagueiro) e Beto (volante). Mas já houve épocas de ter oito em um só time. O jogador brasileiro é almejado por clubes de todos os países do mundo. Financeiramente vale a pena vir e eles gostam muito dos brasileiros e da forma como jogam. Na minha segunda temporada como jogador aqui, convivi com três atletas ingleses, foi quando aprendi muito. Hoje falo inglês fluente, o que só facilita o meu trabalho. Mas várias situações engraçadas já aconteceram, por exemplo: jogadores pedindo bola ou reclamando em português, achando que serão entendidos – contou.

Sobre a possibilidade de voltar a trabalhar no Brasil, Rambo confirma o interesse, mas não descarta a Europa. O treinador concluiu um curso na Inglaterra para obter a licença A e B da Uefa de técnico de futebol.

– Lógico que pretendo e espero um dia poder ter uma oportunidade no Brasil, mas gostaria também de trabalhar em um clube europeu. Fiz alguns cursos lá e seria uma grande chance. Meu objetivo como treinador é me aperfeiçoar ao máximo e alcançar a experiência necessária para chegar ao mais alto nível. Agora, por exemplo, se eu tivesse que voltar um dia à minha terra natal, gostaria de treinar o Internacional ou o Grêmio. Tenho muito carinho também pelo Náutico, que foi meu último clube no Brasil.

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