Criado como contraponto a Davos, FST tem de samba a religião

30/01/2012 05:24

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Terra

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As palavras pluralidade e diversidade não são o bastante para descrever o que acontece no Fórum Social Temático (FST), realizado em Porto Alegre. Criado como contraponto ao capitalista Fórum Econômico Mundial de Davos, a gigantesca programação reúne oficinas de pandeiro, origamis e debates sobre religião, psicanálise anticapitalista, além de entidades que criticam o próprio fórum. Tudo isso culmina com shows musicais no final de cada dia, seguidos por confraternizações no acampamento.

Entre as atividades peculiares estão a oficina de árvore da paz em origami, de pandeiro, plantas medicinais como fortalecimento da agricultura familiar, ação ecológica com jogos de xadrez, debates sobre a construção de pontes entre a frugalidade e o macromarketing, psicopatologia do poder (uma espécie de psicanálise anticapitalista) e encontros entre teólogos.

A maior parte dos encontros são constituídas por atividades autogestináveis, ou seja, organizadas pelos próprios participantes, daí a diversidade. Foram mais de 900, segundo a organização, a maioria acontecia ao mesmo tempo, quando acontecia. Isso fez com que algumas das reuniões tivessem pouca participação ou virassem bate-papos.

"Até ontem, eu achava que tinha sido cancelado, mas um colega me avisou dizendo que ia acontecer. É muita desorganização, já mandei um e-mail desaforado para a organização", disse o líder da Associação Nacional de Teólogos e Teólogas da Religião de Matriz Africana Afro-Umbandista, Jayro Pereira, que veio da Bahia. A indefinição prejudicou a mobilização para a palestra que contava com quatro participantes, afirmava.

O espírito anarquista emanado pelo fórum ficava evidente quando se realizava um passeio pelos encontros e nos acampamentos. No local onde o palestrante da Tunísia falava, uns dormiam, outros almoçavam, ao lado ocorria um desfile de moda hip-hop sustentável e próximo às barracas gente fumava maconha. Mais adiante, a União da Juventude Comunista do PCB criticava a proposta do próprio fórum, a poucos metros de um ambulante que oferecia cachaça do Maranhão.

Diversidade e improviso

O improviso era a tônica. As modelos do desfile de moda sustentável foram convocadas entre as participantes, sendo que uma delas havia desaparecido em companhia de anarcopunks para o desespero da estilista, Pandora da Luz. "A burguesia veste o conceito, e os estilistas da alta-costura estão buscando inspiração nas ruas", dizia sobre sua criação.

Militantes que estavam no acampamento contaram que na volta do show do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, improvisaram uma marcha da maconha. "O pessoal que voltava no trem decidiu fazer uma marcha da maconha, à 1h30 da madrugada. Reuniu umas 1,1 mil pessoas até a chegada da polícia, que dispersou o pessoal", afirma o integrante do movimento Cravo Eduardo Beniacar, que veio do Rio para o Fórum.

Segurança

Segundo um segurança do acampamento que não quis se identificar, durante a noite a coisa fica um pouco violenta, com o registro de pequenos roubos, brigas e bebedeira.

Como estou desarmado, quando vejo uma briga, finjo que nem vi", confessa. Ele já previa que o show de rap dos Racionais MCs, realizado no anfiteatro Pôr-do-Sol, atrairia muita confusão. Segundo as equipes médicas que estão de plantão no local, a maior parte dos atendimentos são de picadas de insetos, contusões, bebedeiras e um caso de fratura.

Panfletos e meio ambiente

Para um evento cujo tema é 'Crise do Capitalismo, Justiça Social e Ambiental', e que serve de preparação para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, a quantidade de papel distribuído pelos participantes é considerável. O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) deu atenção especial aos locais onde ocorre o evento, trabalhando em três turnos com 45 garis, além de 81 tonéis de lixo e mais 14 contêineres.

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