Egípcios comemoram um ano sem ditador Mubarak na praça Tharir

25/01/2012 15:59

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Folha Online

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Os egípcios tomaram a célebre praça Tahrir, no centro do Cairo, nesta quarta-feira, para marcar um ano da revolta que tirou do poder o ex-ditador Hosni Mubarak, com os militares atualmente no poder planejando celebrações e ativistas reiterando que a revolução ainda não terminou e que o país precisa de mais mudanças.

Milhares de islamitas, liberais, esquerdistas e cidadãos comuns tomaram conta da praça, epicentro dos protestos, agitando bandeiras e exibindo cartazes.

A Irmandade Muçulmana, que dominou as eleições para o novo Parlamento, se fez presente para comemorar um ano desde que os egípcios --inspirados pela revolta na Tunísia, que deu início à Primavera Árabe-- tomaram as ruas para protestar contra o regime.

Mas outros grupos, incluindo movimentos pró-democracia por trás da revolta, insistem que precisam terminar a revolução e querem a saída dos militares do governo.

O marco chega no mesmo dia em que o estado de emergência, em vigor há mais de 30 anos no país, foi suspenso por ordem do marechal Hussein Tantawi, chefe da Junta Militar que atualmente governa o Egito.

Dois dias atrás, o novo Parlamento tomou posse --a primeira formação desde a queda de Mubarak--, e elegeu o islamita Saad Katatni, deputado do Partido Liberdade e Justiça (PLJ) (braço político da Irmandade Muçulmana) como seu presidente.

Mubarak, ex-ditador que governou com mão de ferro o país durante décadas, ainda está sendo julgado.

"REVOLUÇÃO CONTINUARÁ"

Entre a multidão que gradualmente se agrupa na praça Tahrir nas primeiras horas desta quarta-feira, há muitos seguidores do Partido Liberdade e Justiça, além de inúmeras famílias com crianças e muitos parentes.

Um grande cartaz colocado em Tahrir sintetiza de forma precisa a sensação geral: "A revolução continuará até que se cumpram suas exigências".

Hoda Kawsy, uma dona de casa de 53 anos, foi ao centro do Cairo com uma amiga, assim como fez há um ano, quando começavam os 18 dias de protestos que derrubaram Mubarak.

"Viemos protestar para que a revolução continue. Até agora houve poucas mudanças porque a Junta Militar cometeu muitos erros, como o plebiscito de março (para aprovar várias emendas constitucionais)", explicou.

A mulher reiterou que deseja que os militares "se desvinculem totalmente do poder político".

No centro da praça, onde cada vez é possível ver mais barracas instaladas, foi colocada uma enorme pira com hieróglifos egípcios e uma chama sobre a qual está escrito: "Revolução de 25 de Janeiro".

Em um lado da praça, para aproveitar a corrente de solidariedade gerada, uma ambulância está coletando doações de sangue para os hospitais do Cairo.

ESTADO DE EMERGÊNCIA

"Tomei a decisão de por fim ao estado de emergência em todo o país, à exceção dos casos de combate a crimes violentos, a partir de 25 de janeiro de 2012 de manhã", declarou Tantawi ontem (24).

A lei sobre o estado de emergência, que permite limitar as liberdades públicas e realizar julgamentos em tribunais de exceção, foi mantida em vigor sem interrupção durante os trinta anos do governo Mubarak. Ela foi instituída após o assassinato do presidente Anuar el Sadat por islamitas em outubro de 1981.

As potências ocidentais também vinham pressionando os militares para que derrubassem a medida comumente utilizada em ditaduras militares e períodos de crise em que as liberdades individuais são reduzidas.

Em reação, os EUA classificaram a medida como um "importante passo rumo à normalização da vida política" egípcia. No entanto, a porta-voz do Departamento de Estado americano, Victoria Nuland, afirmou que Washington espera "esclarecimentos" sobre o anúncio do marechal Hussein Tantawi de que o estado de sítio continuaria sendo aplicado "nos casos de luta contra os crimes violentos".


 

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