Moradores do Pinheirinho/SP resistem a truculência da polícia durante a reintegração de posse

Reintegração foi anunciada pelo governador Geraldo Alckmin. 30 trabalhadores foram pesos. Sete pessoas foram mortas, entre elas uma criança

23/01/2012 13:20

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Fran Ribeiro

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Vinte dois de janeiro de dois mil e doze. Domingo. Brasil. São Paulo. São José dos Campos. Comunidade Pinheirinho. Por volta das 6h da manhã do citado dia, no citado local, cerca de 7 mil pessoas, mulheres, crianças, homens, trabalhadores foram retirados de suas casas de forma brutal pela polícia. A ação de reintegração de posse das terras da falida empresa Selecta S/A anunciada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), levou cerca de 2 mil policiais militares e guardas metropolitanos a invadirem a comunidade com armas, capacetes e escudos.

De acordo com relatos não-oficiais sete pessoas foram mortas na ação. Entre elas, uma criança de três anos. A ofensiva militar é justificada (se pode ser justificada) para atender a especulação imobiliária. O “dono” das terras, o empresário Naji Nahas, deve ao governo paulista R$ 14 milhões e a sua dívida com a União é de R$ 15 milhões. Sim, 7 mil pessoas foram despejadas de suas moradias para saldar a dívida de Nahas com o governo Alckmin. Ao invés de desapropriar a área, o governo tucano prefere trabalhar para a especulação imobiliária. Enquanto isso, os moradores que são ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e que ocupam o Pinheirinho desde 2004, foram surpreendidos com balas de borracha, gás lacrimogêneo e armas de fogo, quando o prazo dado pela justiça para a desapropriação era de 15 dias.

A invasão policial à comunidade foi violenta. Além do aparato de “guerra”, há relatos de espancamentos aos moradores, indiscriminadamente, sem distinção de cor, idade e sexo. Os moradores que resistiram à invasão e a truculência da polícia foram agredidos e presos. Em entrevista, o prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB) declarou que a desocupação seria feita de forma pacifica.

Nesta segunda-feira (23), policiais e moradores voltaram a entrar em confronto durante a reintegração de posse. Nove carros foram incendiados e 14 pessoas foram presas. Ao todo, 30 pessoas foram detidas durante as mais de 24 horas de ação policial. Eles ficarão no local até que a área seja formalmente entregue ao empresário, Naji Nahas. Sobre as denuncias de abuso por parte dos policiais na ação, o governador Geraldo Alckmin disse que irá assistir as imagens para saber se a invasão foi violenta ou não. Ontem, durante o Fantástico, a Rede Globo comparou o Pinheirinho a Cracolândia para justificar a ação da polícia.

O relato de uma moradora da comunidade foi divulgado pelo site da Agência Nacional de Favelas, conta as primeiras horas da desapropriação que começou na manhã do domingo.

"Continuam a matar, espancar, agredir e humilhar mulheres, criancas, pessoas idosas aqui na ocupacao Pinheirinho. Estamos aqui desde as 10 horas da manha e ja vimos todo o tipo de absurdos. Pessoas nas ruas feridas, correndo, estao jogando bombas em nos de cima dos helicoptero, de onde eles tambem jogam gaz de pimenta. Ha companheiros mortos, ainda nao sabemos o numero exato mas temos ja confirmadas pelo menos 3 mortes. O numero de feridos e impossivel de confirmar. A toda hora disparam contra nos. O ar é irrespirável de tanto gáz lacrimogenio e gaz de pimenta. As criancas nao param de chorar.
Mas o povo está ferido mas ainda forte. Na luta estamos por todos os nossos direito e por uma sociedade onde nao tenhamos que morrer para ter uma moradia."

“Somos todos Pinheirinho”

O apoio aos moradores da comunidade ultrapassou as redes sociais. Durante a semana passada, atos foram realizados na capital paulista e em outras cidades do país. Nesta segunda-feira (23) cerca de 100 pessoas ligadas a entidades dos movimentos sociais, caminharam até a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em apoio aos moradores do Pinheirinho e para exigir uma intervenção federal ao massacre capitaneado pelo governo tucano.

Nesta terça-feira (24), às 9h em frente ao antigo prédio do Produban, no Centro, movimentos sociais de Alagoas realizarão ato em solidariedade aos moradores do Pinheirinho.


 

*com agências. 

Primeira Edição © 2011