Elis Regina, a "pimentinha" de Vinícius de Moares

19/01/2012 16:00

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Rone Barros - estagiário

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A voz marcante, a forma, a interpretação e versatilidade de Elis Regina, ou “pimentinha”, como era carinhosamente chamada pelo saudoso poeta Vinícius de Moraes, vai para além dos discos de vinil reproduzidos em agulhas raras de um gramofone e em nossa memória sensitiva. Elis se foi e se imortalizou antes mesmo da minha existência, mas sua voz matinal reafirmou esse vício de eternidade que a gente tem.

Absorvido pela curiosidade alheia, esse foi meu primeiro encontro com o som de Elis Regina e recordo nitidamente o timbre impar invadindo os cômodos e chegando à sala de madeira escura. Em 19 de janeiro de 1982, Elis tornou-se um mito. Após 30 anos de sua morte, Elis continua inquietando, acalmando, diluindo, inspirando poetas e artistas em diversos gêneros.

A “pimentinha” em dueto com Tom Jobim mostrou uma brasilidade visceral interpretando “Águas de Março”. Representou a fé iluminada e funda em “Romaria” e inesquecivelmente nos ensinou a viver “Como Nossos Pais”, surpreendendo-me com a composição de Belchior.

“Maninha, precisava ser agora? Em pleno verão, o sol quase em Aquário. Sei que teu coração não aguentava mais tanta barra. A gente, que é gaúcho, se entende. O tempo existe, Pimentinha, e passa, leva no arrastão as coisas e as pessoas que não morrem: ficam encantadas. Y solo resta el silencio, un ondulado silencio. Nós te amávamos tanto, tanto. Guria. Até”, lamentou o escritor Caio Fernando.

Exatamente como em sua canção “Atrás da Porta”, permanecerei inquieto, calmo, diluído, inspirado como um poeta e com meu olhar de adeus para a cantora, gaúcha, mãe e militante. “Porque é assim que quero te guardar, juntando tua voz matinal aos restos dos sons noturnos que ainda bóiam na casa. Não tenho medo da morte. Tenho medo da vida. Baixinha, foi tão de repente”, eternizou Caio.

 

*Supervisão: Fran Ribeiro.

Primeira Edição © 2011