Região nobre da capital alagoana já vive saturação imobiliária

Arquiteto e urbanista denuncia ocupação de praças como autênticos crimes cometidos contra a cidade

16/01/2012 06:01

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Luciana Martins - Jornal Primeira Edição

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Como estará a chamada ‘área nobre’ de Maceió daqui a 20 anos? Formada pelos bairros de Pajuçara, Ponta Verde e Jatiúca, o ‘filé mignon’ urbano já não tem espaços para crescer verticalmente, por isso avança no plano vertical com a construção de edifícios, o que aumenta a densidade populacional. Com isso, surgem problemas comuns que vão desde a precariedade do saneamento básico ao trânsito de veículos cada vez mais congestionado.

O cenário na orla será praticamente o mesmo, como explica o arquiteto e urbanista Mário Aloísio Barreto, porque a área já não possui tantos terrenos disponíveis para permitir uma mudança na paisagem hoje existente. “A região da Ponta Verde já está praticamente consolidada”, diz.

Ele lembra que a cidade de Maceió nasceu com a via férrea que ia até o mar e tinha como principal bairro o de Bebedouro. A região do Centro e Trapiche da Barra foram as primeiras áreas ocupadas e onde houve o primeiro adensamento. “E aí houve a primeira barreira transposta – o Riacho Salgadinho – por conta do Porto, cuja importância econômica, vale lembrar, fez com que a capital fosse transferida de Marechal Deodoro para Maceió”.

Barreto revela que no inicio do século XX não se achava salubre morar à beira mar, tanto que o bairro mais importante de Maceió era o Farol. “Nunca a beira do mar. Somente no fim da década de 60 e inicio da década de 70 o mar virou um atrativo”.

PETROBRAS
Miguel GóesE a expansão da orla surgiu mesmo com o projeto da Petrobrás que financiava a orla das cidades para em contrapartida ter um posto de gasolina à beira mar. “Aquele primeiro trecho entre o cais do porto e o Alagoinhas foi feito com financiamento da Petrobras. Depois veio o Fernando Collor como prefeito e estendeu até o Hotel Jatiúca, que foi o primeiro hotel à beira mar, e com o que Maceió tornou-se o primeiro destino turístico da época”.

Com isso, a população do Farol começou a migrar para Pajuçara. Na época em que não se valorizava tanto as áreas de beira mar foi construído um conjunto popular na Cruz das Almas e a Braskem (antiga Salgema). “Então Maceió ficou com uma fatia muito pequena de adensamento e não se pode dizer que foi um adensamento sem controle. Nessa época o plano diretor definia e se define até hoje a taxa de ocupação para esta região da cidade”.

PAJUÇARA
A ocupação da Pajuçara é recente porque até o ano de 95 quase não existiam prédios, apenas dois hotéis. “Hoje em dia é que está acontecendo essa ocupação da Pajuçara porque não era tão chique, e hoje ainda não é, como morar na Ponta Verde”. Muito embora, segundo Aloísio, a região que fica por trás da Epaminondas Gracindo iniba a expansão da área, diferentemente do que aconteceu com Ponta Verde e Jatiúca que eram areais.

Na opinião do arquiteto a cidade de Maceió deu muita sorte porque alguns erros cometidos no passado estão tendo reflexo agora no presente, como por exemplo, se admitir ruas com cinco metros de largura. Hoje, de acordo com ele, esse problema foi corrigido. “Quando se começa a fazer um loteamento, e aí vem o interesse pessoal sobre o público que nem sempre se sobrepõe, aí começam a fazer ruas estreitas, pequenas para que não transitem carros e a cidade vai ficando adensada. E aí, sim, mesmo que ele obedeça uma taxa previamente definida nos lotes, o que acontece são avenidas muito estreitas”.

Luciana Martins

CRIME URBANO
Ele cita o exemplo do Stella Maris onde as ruas são estreitas. “As ruas do Stella Maris tem cinco metros e meio de largura e quando param dois carros, não passa o terceiro. Isso é um crime. Imagina um incêndio, a pessoa está querendo circular pela rua e não poder porque se diminuiu 50cm para economizar no calçamento ou não sei se no bolso de alguém. Foi feito, está lá e para corrigir isso é complicadíssimo”.

Outro problema da expansão é a ocupação de praças públicas para a construção. “Ali na João Davino, o Clube dos Sargentos mesmo foi construído em uma área de praça e hoje eles estão negociando a área para a construção de prédio. Isso é um absurdo. É uma área de praça. Várias praças foram ocupadas, inclusive para a construção de escolas da prefeitura”.

NA PLANTA
Maceió tem uma particularidade: é um dos lugares onde mais se vendem apartamentos na planta. “Esse fenômeno é muito daqui. As construtoras criaram credibilidade e os acabamentos são de boa qualidade. Isso é mercado, criou-se a confiabilidade e aí se vende muito na planta”.

Esse fenômeno, conforme avaliação do urbanista Mário Barreto, contribui sim para a saturação dos bairros nobres da capital. “Num futuro próximo vamos nos deparar com situações difíceis nestes bairros em todos os aspectos, inclusive da mobilidade urbana”.
 

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