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Um final de tarde em Tabuba

17/10/2012 06:43

As vésperas do fim de semana a orla marítima de Maceió estava com aquela movimentação de sempre, cheia de turistas em suas praias e ruas. Neste caso, no entardecer, há de se buscar um lugar de charme que a gente costuma ir sozinho ou acompanhado, para desvanecer-se um pouco desta fatigada existência. Existir não é fácil, enfatizou Sartre; e com o tédio que paira sobre esses nossos dias, pior ainda.

Irresoluto fiquei enquanto o relógio seguia o seu destino. Contudo, de chofre, avisei pelo telefone da minha prometida visita a alguém especial em Tabuba. Dizia naquele instante, que iria ver o pôr do Sol por lá. Não era tão repentinamente que eu estava sendo esperado; mas, já estava convidado mesmo, né?

A estrada do litoral norte sempre me causou certo prazer nos olhos pela beleza do verde junto ao mar. No começo dos anos 80 quando costumava deslocar-me ao Recife, quase sempre pelo litoral norte, ao passar por Paripueira, parecia também que estava ficando pra traz Maceió. Já na volta, quando o ônibus adentrava no município da Barra de Santo Antonio, sentia a sensação de que já estava bem próximo de casa. Não me sai da lembrança todo aquele cenário paradisíaco do nosso litoral norte nos arredores de nossa capital. Porém, as coisas já não são mais como antes, tem se construído muito, e a população pobre, por justo motivo, também tem invadido muitas áreas verdes, e por aí vai. O resto da história todo mundo sabe o script. 

Tabuba estava plena naquela tarde. A casa que visitamos, mesmo em reformas, foi acolhedora. Elogiei o terreno onde foi construída, que ficava de esquina e acima do nível da rua. Gostei do jardim ao lado onde está sendo montada uma grande piscina de fibra. O muro também ficou aprazível, na altura do ombro, nos proporcionando espiar lá fora. Além da doce sensibilidade da dona da casa, em preservar bem no meio do jardim um velho cajueiro alto e majestoso. E do seu projeto do viveiro de passarinhos, que juntamente com três cadelinhas de madame e um casal de galinho da índia, deixarão a casa durante o dia com aquele barulhinho bom. 

Caminhamos pelas alamedas pisando em folhas secas até a desembocadura do mar. A maré estava cheia e o sol caía por traz de alguns sobrados e coqueirais. Uma jangada voltava do mar aberto de sua aventura pesqueira. Ali, ficamos um tempo sob o sopro da maresia diante da enseada da praia, a falar sobre as coisas da vida. Esquecemos um pouco o cotidiano e seus compromissos e demos leveza à conversa. Percebi que logo adiante mais ao sul, havia um aprazível restaurante e que agora virou um condomínio residencial. Mais ao norte permanece a colônia de pescadores; ainda bem. Colônias de pescadores é o coração de uma praia, sem suas jangadas e redes que saem das águas, não tem graça o lugar. 
Voltamos a casa já com o Sol se despedindo, tempo em que se fazia os preparativos da ceia. A mesa, concluímos nossos assuntos; e na varanda, deixamos à digestão dar o apito final. Ao despedir-me de Eliane, nossa grata anfitriã e viúva de meu pai, abracei-lhe, e como últimas palavras, disse que ela foi um grande amor do nosso querido velho. Seu rosto mostrou emoção inesperada. Olhei para o relógio, marcava 20h30min, e reclamava que já era tempo de pegar a estrada. E aí, deixamos tabuba a descansar, sob a lua, e sobre o mar.

 

cronicjf@gmail.com

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Prêmio Nobel de Física

10/10/2012 17:33

 

 

Vimos ontem o anúncio da dupla ganhadora do prêmio Nobel de Física que poderá levar a criação do computador quântico : o francês Haroche e o americano Wineland.

Muito bacana mesmo essa nova descoberta, e tantas outras , a ex da área de
química sobre os estudos receptores acoplados a proteína G que permitirão a produção de novos medicamentos e, consequentemente, acelerar as futuras curas na medicina .

São as cabeças locomotivas do mundo, sim ! Mas fico pensando que muitas dessas descobertas, principalmente na
área tecnológica (informática ) e suas mil e uma facetas para deixar o homem atual mais " veloz" e viajante desses invisíveis chips e
dessas máquinas que caberão ,em breve, na palma da mão, o impedirá, cada vez mais, de olhar ao lado e se comunicar -a nível humano -com toda essência e propósito para o qual foi destinado nesse mundo ,nessa passagem de vida...
Tenho que concordar com Einstein que ,apesar de ter sido uma dessas locomotivas e , sem dúvida , um dos maiores gênios do séc XX,declarou nos últimos anos de sua vida :

" Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha á nossa humanidade: o mundo terá apenas uma geração de idiotas ".

 Boa dedução. Realmente, só acrescentando este raciocínio de Ana Maia Nobre, acreditamos que não é mais a informática a tecnologia de ponta, o mais novo ideal da humanidade são as pesquisas do genoma; é o futuro. E a criatividade jamais as máquinas vão ter. Parabéns pelo texto.

*Por Ana Maia Nobre

http://www.viverdearte.com/

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Coisas da alma

21/09/2012 13:01

Tenho o hábito de ler  jornal à noite, como bem disse o compositor Flávio Cavalcante em sua canção Manias: "manias são coisas que a gente tem e não sabe porque". No todo da leitura, olhar o horóscopo é inevitável; a noite é vantagem por que o dia já passou. Aqui não vem ao caso se você acredita em horóscopo ou não, é apenas um hábito de quem ler jornal diariamente. Não venham dizer os leitores diários que não gostam de ver o horóscopo, porque é mentira. Todo mundo dá uma olhadinha. Horóscopo e uma boa crônica fazem parte da imprensa. Hoje para nós os escorpianos há uma definição  interessante. Diz a astrologia: quem ver a cara de um escorpiano hoje, não tem idéia do que se passa no seu coração. Assim seja para o melhor.  Neste momento astrológico, me veio um turbilhão de idéias e sentimentos por força da Lua em Marte, mas sei que ninguém notou na minha cara que pareceu serena e calma. Porém, até uma dor de cabeça veio de saldo; mas enfim, foi um dia interessante. Foi invisível no meu interior alguns pensamentos,  projetos e realizações; como também sonhos, sempre sonhos para mantermos viva em nós a esperança. Tive vontade de fazer mais de uma crônica, talves duas ou três se imprenssasse o tempo. Tive pensando também, como a essa altura, meu coração ainda insiste ter sentimentos novos. O coração é mesmo um rebelde, mas é intuitivo e sabe onde quer ficar. Ele não aceita o tempo passar, por exemplo. Um dia sem ter hora marcada ele vai parar, mas parará sem querer e sem saber. Coração morre feliz pensando que não parou, e num êxtase de quem não viu o tempo passar. Meu coração de meia idade hoje me falou essas coisas, por isso eu não vou insistir mais. Ele não me ouve, é um radical na busca de sentimentos e paixões - um  um coração escorpiano.

Hoje vi uma frase de autor desconhecido que me revelou a diferença de sexo e amor. Diz a frase que sexo é papel rasgado, e amor é escrever num papel rasgado. Seja como for já vi muitas definições entre sexo e amor, e acho que de alguma forma, entre um homem e uma mulher ambos caminham juntos. Não tem essa de que sexo acaba em determinado momento da vida, pelo contrário, ele continua até o fim, adaptando-se a cada momento da idade cronológica, e movido pela energia do amor. Aliás, a energia do amor nos parece ser perene, e nos blinda de forma que, mesmo longe estamos perto. Essa história de que quando os olhos não vêem o coração não sente é uma bela mentira. Quando os olhos não vêem o coração morre de paixão, como se estivesse a vê a pessoa amada. Então digamos: que seja eterno o amor! E a propósito de idade cronológica, tenho uma opinião formada de que nossa idade cronológica não condiz com a idade mental, e muitos de vocês irão concordar comigo. Eu mesmo, por exemplo, se ator fosse, não saberia fazer um personagem de um senhor de 53, por exemplo. Posto que saiba da sintomática energia física desta idade, e da bem vinda maturidade mental que ela nos trás, não me sinto em essência com ela. É apenas minha visão interior ; entende? É claro que a grande maioria das pessoas se situam muito bem dentro da sua idade cronológica. Eu ainda converso bem com  pessoas mais novas do que eu, ainda consigo sintonia com elas. Agora com uma vantagem, eu sou cinquentinha, e aí, consigo enxergar o amor na sua maior e melhor plenitude, o que eles lá de trás não conseguem. Assim também, vejo a mulher dos cinquenta como a mulher mais interessante. E dou-lhe o nome de Leoa, ou carinhosamente de Leoasinha. Esta é a mulher que sabe tudo. Sabe buscar no olhar de uma caçadora implacável o momento do seu bote. Sabe a palavra certa para flechar seu coração. Se descomprometida, quase sempre é livre e independente na relação. Por isso, curtam, bebam, comam, festejem, mas só deixem para amar aos cinquenta; porque aí, vocês vão saber realmente o que é o amor.

cronicjf@gmail.com

 

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Minha Terra Alagoas

14/09/2012 19:14

Nossa emancipação veio naturalmente pelo nascimento e consolidação de uma cultura provincial alagoana. No séc. XVIII nosso contorno geográfico já estava delineado, a linguagem tinha suas peculiaridades distintas da pernambucana, os núcleos populacionais organizados em freguesias, comarcas, vilas, povoações e aldeias mistas. (Dirceu Lindoso). Seus dois conventos franciscanos passaram a ser notados pela veleidade cultural e pela atividade do clero, surgindo daí, as primeiras gerações de intelectuais. Tornaram-se conhecidas a sua exuberante mata atlântica, a exploração do pau-brasil e o confronto com os franceses; o naufrágio de dom Pero Sardinha, Palmares, Zumbi; o extermínio dos Caetés; os currais do São Francisco, a presença holandesa, Calabar. Um fato decisivo também, foi quando do inrompimento da Revolução Pernambucana, em que o alagoano e ouvidor, Antônio Ferreira Batalha, se posicionou contra e liderou o movimento alagoano em favor da Corôa. Com essa posição do Ouvidor Batalha, sente-se que já havia um sentimento de independência na alma alagoana. Mas, tudo foi fruto de um longo processo e momentos especiais, e, sem dúvidas, o 16 de setembro é um dos mais significativos.
Hoje, nosso Estado desponta na Federação com o mesmo sentimento de sua identidade cultural e procurando o caminho do desenvolvimento. É claro, que não somos apenas mar e sol, temos um patrimônio histórico e cultural que precisa ser preservado; e é o que faz a nossa diferença na questão da competitividade turística. Temos cinco regiões geográficas em suas diversas atividades econômicas. Enfim, temos um potencial além das nossas belezas naturais.
Neste dia especial, gostaria de lembrar dois alagoanos que tiveram um imenso amor a nossa terra. Cito apenas esses dois para não cometer injustiças. Um foi o poeta, professor e político Jaime de Altavilla em seu “Canto Nativo”. O outro foi Guedes de Miranda, que se referindo a Alagoas assim declarou: “Não sei viver fora de Alagoas, de onde nunca me ausentei por mais de trinta dias. A sua paisagem física e humana, atrái -me como ímã. A terra empolga-me, a terra e sua gente. Terra boa, cheirosa  de corpo limpo, lavada nas águas elásticas dos rios largos, ou na correnteza lânguida dos riachos, embalsamadas de flores inebriantes, de restingas que me sacodem no rosto o hálito de seus perfumes agrestes. Gente boníssima, rude, inteligente, manhosa e arguta, mansa e brava, incoerente, ingrata e generosa. Gente difícil, que é preciso compreender para se amar. Gosto do meu povo, adoro minha terra, a única onde o rio da minha vida fluí, toando às cantigas da minha infância e o cantochão da minha velhice.”

cronicjf@gmail.com
 

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Uma canção sobre sentimentos usados - Colaboração de Clara Dias

04/09/2012 13:03

Você sabe que a pior escolha é esperar para ser a melhor pessoa possível em um futuro que julga próximo. Diferente das contas dos carnês, com parcelas com vencimento 5 de setembro, 5 de outubro, 5 de novembro, até 5 de dezembro de dois anos adiante do vigente, entende que depois de quitado o sonho se transforma em lembrança para ser desfiada em dia de jantar em família.
E que flores em vasos são impacientes e partem adiantado, e isso em nada tem a ver com o fim da primavera.

 Compreende a solidão dos almoços em dia de trabalho, quando seu olhar reconhece as feições dos estranhos mastigando comida e se alimentando de urgências: pegar a roupa na lavanderia, escrever para o diretor, comprar laranja lima, pedir o divórcio, colocar o analgésico na bolsa. E sempre alguma urgência se destaca, roubando-lhe a atenção entre uma garfada e outra, às vezes distraindo tanto que a sua comida acaba no prato no final da hora do almoço.
Como aquela urgência reconhecida no homem de cabelos brancos que só, que se curvou sobre a bandeja e se fez de interessado pela comida, mas que na verdade, enquanto esparramava o arroz pelo prato, chorava copiosamente. A sua vontade foi sentar-se com ele, perguntar por que, o que e como, agir como o ouvidor da confissão da tristeza dele.
Porém, você também é sabedor de que não há como estancar as dores de outra pessoa. Não de pessoas que tiram a hora de almoço para visitar suas emoções, e então voltam ao modo trabalhador cinco minutos antes de sair.

 Você sabe que caminhar pela cidade faz bem à saúde, ainda que a qualidade do ar não esteja lá essas coisas, de acordo com o telejornal. Só que é lugar fora de quatro paredes, tem sombra e ao sol você quara seus pensamentos, aquece a rotina. Porque está fora de quatro paredes, diferente do quarto, quando você deita a cabeça no travesseiro e ela acha que é hora de trabalhar, transformando a sua noite em uma orgia de ilusões e quês de realidade.
Entende que amar não é para todos, ser amado é para poucos, apesar de os adeptos do positivismo exagerado relutarem em aceitar o fato. Por isso se permite ser amado sempre que possível, na forma mais ampla do amor, recebendo até mesmo os amores instantâneos, que são aqueles que algumas pessoas sentem por você depois de conhecê-lo em uma festa, ou durante o jantar que deveria ser somente para amigos íntimos, mas recebe estranhos.
E também durante as canções. Permite-se ser amado por melodias e poesia, abraçando o significado de algumas para traduzir alguns dos seus próprios momentos.
É que você sabe que é pessoa, e que nessa condição, experimentará de tudo um pouco, e que nem sempre será no futuro próximo. E canções cabem até mesmo no daqui a pouco. Mesmo as velhas canções sobre um sentimento novo, quase inédito, digno de ser urgência para quem conhece um bom repertório para abrandamentos.

cronicjf@gmail.com


 

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Primeira Edição © 2011